Ter a vida e, portanto, segurança como um valor na sua empresa não é uma condição prévia para que a cultura de segurança possa ser valorizada e madura.
A maneira e a intensidade com que as pessoas se engajam em torno do tema segurança, gestão de riscos e comportamento seguro não definem, necessariamente, o quanto essas pessoas têm a vida ou a segurança como um valor.
É uma condição intrínseca de nós, os seres humanos, preservar a própria vida e daqueles com quem nos importamos e que amamos. O desafio a ser entendido está em como trazer este valor para dentro das organizações para que possa ser compartilhado com colegas de trabalho, líderes e equipes.
Em uma conversa com um cliente, me foi relatada uma situação bastante típica que, provavelmente, você que está lendo esse texto já deve ter vivido.
O gestor de segurança do cliente me relatou que, num espaço de 15 dias, teve 2 acidentes graves em tarefas de rotina, resultando no afastamento de dois empregados com mais de 15 anos de empresa.
A liderança sênior da empresa pediu uma solução pontual para interromper essa tendência de acidentes graves em tão pouco tempo. Definiu-se, então, que nas semanas seguintes a equipe de segurança passaria a atuar 100% do tempo em campo, abordando empregados, fazendo DDS, realizando inspeções com supervisores, analisando riscos, propondo soluções etc. Toda atividade conectada com a gestão tática/estratégica deveria ser interrompida para que o foco da equipe de técnicos de segurança ficasse direcionado totalmente para o trabalho de campo.
A dúvida do gestor de segurança estava no fato do quanto essa intensificação da atuação dos técnicos em campo poderia ser maléfica para a cultura de segurança, ou seja, não deveriam dedicar esforços em desenvolver a cultura de segurança ao invés de insistir em ações de supervisão que reforçam a dependência.
Minha resposta para o gestor foi que a estratégia dele para o momento estava perfeita, mas que ele não poderia assumir que isso continuaria para sempre.
Apesar desta empresa não ter feito um diagnóstico de cultura de segurança, o gestor percebia que a cultura local reativa/calculativa, logo, para uma equipe com esse nível de maturidade em segurança a ajuda e suporte necessários é o de uma equipe de segurança que está do lado, segurando nas mãos e mostrando como fazer, o que fazer e quando fazer.
Para que esse gestor não fique eternamente dentro dessa estratégia dependente de atuação da equipe de segurança, é necessário traçar um plano de desenvolvimento da liderança, afinal, assim que a equipe de segurança voltar para sua rotina original, a liderança precisa assumir seu papel e responsabilidade com a segurança das pessoas para prevenir que os acidentes aconteçam novamente.
Portanto, se você percebe que existem riscos iminentes de acidentes ou eventos reais em curto espaço de tempo, não tenha receio de colocar o time em campo, 100% do tempo. E não julgue os líderes por ter que fazer isso. Para cada doença você deve oferecer o remédio correto.
Mas não pense que é possível continuar nessa estratégia de ação indefinidamente. É preciso desenvolver a liderança.
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