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  • Foto do escritorEduardo Machado Homem

Segurança é menos sobre pessoas e mais sobre negócios.

Eu comecei minha carreira na área de segurança do trabalho e meio ambiente no ano de 1998 e nessa época, me lembro de ouvir sobre uma norma internacional que viria para regular a gestão de segurança do trabalho, no mesmo molde da ISO9000 e da ISO14000. Mas só aconteceria, de verdade, em 1999. Foi neste ano que a OHSAS18000 surgiu.


O começo dos anos 2000, no Brasil, foi marcado pelo início de um esforço das autoridades no sentido de pressionar o agronegócio e outras indústrias a se modernizar. Isto ainda não está plenamente resolvido, mas a mecanização das lavouras e a automação de parte da indústria é inegável.


A partir de 2005, já se percebia uma disseminação de iniciativas diversas voltadas para aspectos comportamentais em segurança. Além de ser algo bastante enviesado para a culpabilização, desenvolver a gestão de segurança baseada no comportamento era coisa para poucos, pois envolvia um investimento muitíssimo elevado.


Apesar das ações relacionadas tanto com regulamentação legal e de gestão quanto com a implementação pela indústria, serviços e agronegócio, o discurso sobre o comportamento é o predominante, atualmente, pois fala-se muito sobre cuidado ativo, comportamento seguro, engajamento da liderança etc. Faz-se muito, mas menos do que se fala.


Se o agronegócio não tivesse se movimentado no sentido de modernizar pesquisa, plantio, colheita e logística, não seria o negócio relevante que é para o PIB brasileiro. Ocorreram enormes melhorias para os trabalhadores em termos de segurança, mas o ganho conquistado para a lucratividade do negócio não migrou de forma proporcional para a manutenção da integridade física e mental das pessoas. Nas maiores e melhores empresas do agronegócio e de outros ramos de atividade da indústria ainda se convive com fatalidade, ou seja, pessoas ainda morrem para que os resultados sejam obtidos.


Agora, voltando para o aspecto comportamental e seu discurso predominante, prega-se muito sobre cuidar de pessoas, sobre o fato de as pessoas serem o principal ativo das organizações, sobre qualidade de vida no trabalho, de equipes maravilhosas, sobre #somosEMPRESATAL etc. Pode não parecer, mas o discurso sobre segurança e cuidado estão dentro do pacote relacionado a propósito, necessidade de pertencer e engajamento. E há um motivo para isso.


Na década de 1920, o pesquisador Elton Mayo realizou um experimento com os trabalhadores de uma fábrica americana para, de forma resumida, entender o quanto eles eram diferentes das máquinas em termos de produtividade. Parece estranho, mas era um tempo em que se acreditava que pessoas e máquinas tinham o mesmo valor em termos de produção e alguns pesquisadores queriam mostrar o oposto.


Elton Mayo dividiu os empregados em dois grupos para alocá-los em ambientes diferentes com leves diferenças nas condições físicas. Para estabelecer uma população de controle, o grupo que chamaremos de número 1 trabalhou em condições normais da época e o outro, o grupo número 2, foi submetido à uma variação extrema de iluminação ambiente. O resultado foi inconclusivo, pois ambos os grupos mantiveram níveis de produtividade similar.


Na continuidade dos experimentos com a variação de diversas características do ambiente físico do grupo 2, percebeu-se que a produtividade dos grupos começou a se distanciar, ou seja, o grupo 2 teve sua produtividade aumentada em comparação ao grupo 1 que se manteve nas mesmas condições de trabalho iniciais. Elton Mayo percebeu que o que influenciava a produtividade não era a mudança do ambiente em si, mas o nível de atenção que os chefes dedicavam aos empregados, isto é, a preocupação do chefe com o ambiente de trabalho dos empregados era o que motivava o aumento da produtividade pela força de trabalho.


Concluindo os experimentos, percebeu-se que a produtividade não estava conectada somente com fatores monetários e ambiente físico, mas era fortemente impulsionada pela forma como o empregado era visto dentro da empresa. Ao invés de serem percebidos como parte das máquinas e equipamentos, a percepção de que seus chefes se preocupavam com eles impulsionava a produtividade dos empregados em um nível muito maior.


Estes experimentos ficaram conhecidos pelo nome da localidade em que foram realizados: Hawthorne. A partir deste momento, ficou evidente que aspectos emocionais e de relações humanas nas empresas fortaleciam a produtividade e a qualidade do trabalho dos empregados.


Segurança do trabalho se insere no negócio como um articulador e fomentador de maiores níveis de produtividade e não somente como uma filosofia de gestão relacionada com a importância de cuidar de pessoas por si só. Não à toa, existem competições para apontar as melhores empresas para se trabalhar, o melhor RH etc.


Dessa maneira, cuidar de pessoas não seria o fim por si só, mas o meio pelo qual se pode desenvolver níveis de produtividade mais elevados. E isso não é um problema, necessariamente.


Eu não estou sendo insensível, frio e calculista em relação a importância de cuidar de pessoas, do cuidado ativo, do sentimento de pertencimento e da segurança psicológica.


Minha intenção é mostrar que aquilo que me move a trabalhar para impulsionar a qualidade de vida e a integridade física e mental das pessoas nas organizações não é o que motivará os gestores do negócio. Uma coisa é a MINHA motivação, outra coisa bem diferente é a motivação das organizações.


Se fazer um discurso sobre a importância de cuidar de pessoas resolvesse, não teríamos mais fome no mundo. Se ainda há fome num mundo em que há excesso de alimento, é porque não se viu a vantagem de eliminação da fome, apesar dos apelos humanitários. Se ainda há acidentes e fatalidades em organizações altamente lucrativas, isso acontece porque não conectaram a eliminação de tais acidentes com o aumento da produtividade e do lucro.


O etanol e a gasolina é o que movimenta o motor do carro, mas o que move o carro é o atrito do pneu com o asfalto.


A empresa é o carro.


O combustível é a motivação.


O profissional de segurança e o líder são o motor.


E é o atrito do pneu com o asfalto que move o carro, ou melhor, a empresa.


O que move você, profissional de segurança e líder, não é o que move a organização.

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