Para cada ditado ou frase de efeito, sempre haverá alguém que questionará sua validade baseado em suas próprias crenças, conhecimento ou ponto de vista, mesmo que enviesado. Para este tipo de questionamento, sempre tento entender a intenção daquele que coloca o significado das palavras em dúvida.
O significado daquilo que é dito ou escrito, assim como o comportamento das pessoas, raramente é literal, sempre depende do contexto e, no mínimo, envolve mais de uma forma de entender. Um entendimento possível é aquele que está óbvio, não envolve qualquer abstração e, quase sempre, é o que é criticado. O outro entendimento está relacionado ao contexto, à intenção e a uma abstração do sentido real das palavras. Como exemplo banal pode se usar o seguinte ditado: para bom entendedor, uma palavra basta. É óbvio que não se está tratando de apenas “uma” palavra, mas de explicar brevemente algo que já deveria ser entendido por um interlocutor atento.
A pergunta que fica é a seguinte: Por qual razão alguém se prende a um significado superficial de um texto para criticá-lo?
Já ouvi diversas vezes que segurança é inegociável. O sentido literal dessa frase está na passagem da informação de que fazer certo ou com segurança é a única opção e nunca se deve considerar o contrário.
Também já escutei bastante que as pessoas são a solução, não o problema. Na minha opinião, pessoas não são nem solução e nem problema. O sentido da frase está em inserir a si mesmo e a todos num processo virtuoso de discussão agregadora e fugir da culpabilidade pessoal pelos erros, improvisos e dificuldades diversas.
Nos projetos de desenvolvimento de lideranças em segurança, costumo fazer um jogo com os participantes para que eles vivenciem o quanto nós negociamos com o risco em troca de mais produtividade, menos custos e frequentes reconhecimentos. Se trata de uma dinâmica em que eles percebem que correm o risco de se envolver ou envolver outros em um acidente dependendo da magnitude das recompensas oferecidas ou desejadas.
Neste momento, os líderes passam a entender o que significa controlar os riscos para buscar performances produtivas superiores.
Quando eu penso no contexto em que as frases de efeito como “segurança é inegociável” ou “pessoas são a solução” estão inseridas, imagino o ambiente em que os interlocutores estão. Geralmente, a mensagem está sendo direcionada para uma equipe que possui uma maturidade baixa em segurança e, talvez, por alguém que também pertença a este contexto de maturidade. Por não se entender, exatamente, que o comportamento das pessoas é definido por diversos fatores do ambiente físico, humano e social em que elas estão inseridas, imagina-se que dizer que a segurança é a única forma de fazer, fará com que todos apontem para esta direção. No entanto, sabemos que não é bem assim.
Isto dito, você tem algumas opções. Uma delas é sair criticando a frase e seus interlocutores.
Outra opção é acolher aquelas pessoas com a sua lacuna de compreensão sobre o comportamento humano e, de maneira humilde, humanizada, sem ironias e sem sarcasmo, oferecer informação e orientação para que a compreensão possa acontecer.
Esse processo de entendimento é um mecanismo interno, influenciado pelo entorno. Interno tanto no sentido individual quanto de grupo, ou seja, a compreensão das ideias acontece dentro de cada indivíduo e dentro do grupo. Não é possível ter sucesso com esse aprendizado, tentando inserir o significado das coisas, de fora para dentro. Em geral, para a crítica daquilo que acreditamos, oferecemos a resistência imediata como resposta.
Portanto, se quiser envolver as pessoas para buscar uma solução ou uma compreensão de um tema, inclusive em segurança, vá muito além de achar que as pessoas são a solução.
Não imponha suas expectativas sobre as pessoas. Pessoas não são problemas, não são solução e não são o que você gostaria que elas fossem. Pessoas são o que são, com suas qualidades e defeitos, sucessos e fracassos, bondades e maldades. A humanização das relações está em aceitar e acolher o outro como ele é.
Sem pessoas, não há problemas a serem resolvidos, nem soluções para serem propostas. Se veja como parte do todo e como alguém ou mais uma pessoa que constrói a solução junto com as pessoas.
Não tenha a pretensão de ser um salvador ou profeta que traz a sabedoria para o mundo.
Comments