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  • Foto do escritorEduardo Machado Homem

Segurança: você se importa?

Você já deve ter ouvido que as maiores atrocidades foram cometidas no mundo justificadas pelas melhores intenções ou que o inferno está cheio de boas intenções.


Na Divina Comédia de Dante, o inferno é descrito em camadas e na forma de um cone com a ponta para baixo. A pior parte do inferno está no fundo e lá, segundo Dante, é o destino da alma de quem trai a confiança daquele que lhe estendeu a mão.


Há um filme na Netflix com o título I care a lot (Eu me importo). Neste filme, uma vigarista consegue se estabelecer como a guardiã legal de idosos com o pretexto de cuidar da vida destas pessoas supostamente incapacitadas. Ela os interna em clínicas e vende todos os seus bens para ficar com o dinheiro. Obviamente, é tudo uma fraude, justificada por uma boa intenção e amparada legalmente. O “pior” é que as tais clínicas parecem muito boas.


No filme é mostrado todo um esquema com médicos, clínicas e um juiz ingênuo que acredita estar servindo a um bem maior.


Um escritor chamado Ian Kershaw escreveu uma biografia de Hitler baseada em muita documentação histórica e no diário de Paul Joseph Goebbels, ministro da comunicação de Hitler. O livro descreve, entre outras coisas, como um homem louco, inculto e de inteligência limitada conseguiu dominar uma nação e levar o mundo ao caos. É claro que existe um contexto econômico e político da época da pós primeira guerra mundial que importa muito, mas o livro traz revelações íntimas sobre as atitudes e o comportamento de Hitler no poder. Em resumo, há uma parte do livro em que são descritas atitudes afáveis, brandas e cuidadosas de Hitler com pessoas próximas a ele.


Neurocientistas como Pedro Calabrez e Roberto Lent dizem, não literalmente, que a definição comum de empatia está equivocada. Ou seja, empatia não é se colocar no lugar do outro ou sentir o que o outro sente. Para isso, você precisaria conectar seu cérebro com o cérebro do outro através de fios. Empatia é entender que o outro é outro e que ele percebe a realidade e a sente diferente de você.


Cada empregado ou líder que se engaja com o tema segurança, é uma pessoa que lhe estende a mão e o faz porque confiou naquilo que você disse ou fez. Você disse que se importa com a vida dele e o tratou da forma como gostaria de ser tratado. Alguns dirão que você é uma pessoa empática.


Agora, depois de tudo o que você leu, imagine um operador ou mantenedor executando as tarefas da rotina e percebendo que aquele procedimento ou análise de risco não está, plenamente, cobrindo todos os riscos com os quais ele se deparou. Eu não quero questionar o quão eficiente é o processo de gestão de risco, afinal, por melhor que seja, em algum momento este processo irá falhar. E quando falhar, não haverá aviso prévio.


Este operador ou mantenedor ouviu do profissional de segurança ou do seu líder que ele deve interromper a atividade e pedir ajuda em momentos como o descrito no parágrafo anterior. As opções que ele tem incluem, de fato, interromper a atividade ou fazer do jeito que ele fazia antes, quando não se falava tanto em segurança, cuidado ativo e comportamento seguro.


A escolha dele dependerá de como ele recebeu a mensagem sobre segurança nos treinamentos, comunicados e DDS. E a forma como ele recebeu é diretamente e intimamente dependente de como o profissional de segurança ou o líder passou essa mensagem. Hoje, entende-se que o emissor da mensagem é o responsável pelo conteúdo, pela forma e pela recepção da mensagem. Aquela máxima de que o locutor não é responsável pela forma que o interlocutor recebe e interpreta a mensagem já não é mais tão verdadeira assim. Se você pode manipular a mensagem para que ela seja interpretada com um viés negativo, você também pode manipulá-la para que seja corretamente interpretada.


Mensagens em redes sociais passam por um mecanismo pessoal de lapidação e por um envernizamento para que pareçam mais com o que os outros querem ouvir do que com aquilo que realmente se pensa. Logo, me chama a atenção quando percebo tantas mensagens sobre cuidado ativo, comportamento seguro, líderes incríveis e empregados super engajados. A realidade das estatísticas brasileiras de acidentes não condiz com essas mensagens.


Acredite: o empregado sabe se o seu discurso sobre se importar com a integridade física e mental dele é genuíno ou se é apenas uma intenção de comunicar aquilo que convém.


Seja verdadeiro, objetivo e simples quando falar de cuidado. A mensagem transmitida com o uso de uma linguagem abstrata, afável e elegante pode emocionar, mas dura o tempo que a lágrima leva para cair no chão.


Se o discurso não tiver eco na realidade da rotina, você perde a confiança das pessoas.

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