O meio-termo de algo, geralmente, está entre dois extremos de uma medida. Em uma ponta desta medida está o excesso daquilo que desejamos e na outra ponta a ausência total. E não se trata de uma visão binária ou polarizada, pois entre os dois extremos existem infinitas possibilidades.
Quando falamos em segurança como meio termo, podemos pensar em uma régua em que o ser humano deveria ser o centro de qualquer discurso, ação e decisão.
Se pensarmos que estamos na ponta da total ausência de consideração do ser humano no processo, creio que estamos falando de um trabalho que seja análogo à escravidão, de um trabalho em que as pessoas sejam percebidas apenas como um dos meios disponíveis para atingir um determinado resultado, sem qualquer consideração sobre a integridade física, mental e moral das pessoas que executam as atividades fins. As únicas coisas que importam são o custo e a produção. Só consigo imaginar o trabalho análogo à escravidão neste extremo.
No outro extremo dessa régua, encontramos o trabalho em que a única coisa importante é a integridade dos trabalhadores e que o lucro, a produção, a produtividade e o custo, simplesmente, não importam e são apenas efeitos colaterais. Você pode passar a vida procurando, mas este tipo de trabalho não existe. E a razão para isso é simples.
Qualquer organização, seja ela uma empresa, uma ONG ou mesmo um governo, precisa de recursos para sobreviver e operar. Esses recursos, em sua maioria, vêm de alguma forma de trabalho ou atividade econômica, que inevitavelmente envolve a geração de lucro e/ou a otimização de custos. Ou seja, qualquer forma de trabalho envolve o consumo de recursos naturais com o intuito de gerar algum tipo de riqueza que, em alguma medida, deve ser maior do que os recursos usados. No máximo, estes recursos, podem ser regenerados ou reutilizados, mas isso tem um limite e, ainda assim, é possível que não seja vantajoso financeiramente.
Segurança, então, é um meio-termo entre um contexto em que o ser humano não importa e outro extremo de algo que não existe. De um lado, temos uma referência clara daquilo que não desejamos para aqueles que amamos e do outro temos uma utopia.
Por mais que possa parecer contraditório, nenhum dos dois extremos é desejado por nenhum profissional de segurança. Profissionais de segurança também desejam que empresas tenham lucro, reduzam seus custos e otimizem seus processos, afinal, a remuneração deles também depende disso.
Se aquilo que desejamos está entre estes dois extremos, seria interessante descrever aquilo que seria o desejável para uma operação ser considerada segura em termos de gestão, cultura e liderança. E a dificuldade não está em descrever o que queremos para o futuro, mas em aceitar o que somos no presente, no hoje.
Nem todo líder está pronto para essa conversa. Nem todo líder gosta ou aceita aquilo que lhe é mostrado e, muitas vezes, a imagem que resume a cultura de segurança local, a gestão de risco da área desse líder e o comportamento desse líder não é aceita, por pura e simples imaturidade. A mesma imaturidade de uma criança que não aceita que tirem seu brinquedo.
A mensagem que o profissional de segurança oferece pode ser amarga, mas precisa ser acolhida. O grande dilema de muitas organizações é que quando recebem a mensagem, matam o mensageiro e descartam a mensagem no lixo quando deveriam agradecer o mensageiro e internalizar a mensagem.
Recado para as organizações: quando se mata um mensageiro, corre-se o risco de nenhum outro levar mais a mensagem por medo de ter o mesmo destino. É segurança psicológica que chama?
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