Se leis, regras e punições funcionassem, o Brasil seria o país mais seguro do mundo. O arcabouço legal e normativo brasileiro é maior do que muitas enciclopédias juntas e o Brasil tem uma das maiores populações carcerárias do mundo. E nada disso faz do nosso país um lugar seguro.
A ideia de que a punição não educa é antiga e bastante conhecida no campo de pesquisa do comportamento há, pelo menos, mais de 200 anos. Inúmeros filósofos, pesquisadores e estudiosos lembrados pela significância de suas obras e legados deixaram isso muito bem claro e evidenciado.
Cada um à sua maneira, afirmou que a punição é completamente inadequada como uma ferramenta de educação ou modificação de comportamento. Esses mesmos filósofos reforçaram que abordagens focadas na compreensão de contextos, no diálogo e no estímulo positivo promovem mudanças significativas.
Michel Foucault, por exemplo, em seu livro "Vigiar e Punir" apontou que a punição não é eficaz na correção de comportamentos indesejados e muito menos no direcionamento do comportamento desejado, servindo mais para a manutenção do poder e controle social.
Um pesquisador dos mais renomados do behaviorismo foi Skinner e ele defendia que punições podem suprimir comportamentos indesejados temporariamente, mas não têm o potencial de ensinar novos comportamentos.
Um filósofo que, particularmente, gosto bastante e que escreveu um livro fantástico intitulado “Ter ou Ser”, Erich Fromm, acreditava que a punição leva ao medo e à submissão, mas não à compreensão ou à mudança genuína de comportamentos.
Ao falar do processo de educação, precisamos entender a importância de abraçar o desconhecimento das coisas como um ponto de partida para a busca da informação, isto é, assumir a importância da dúvida, da reflexão crítica e da busca incessante pelo conhecimento, reconhecendo as limitações do ser humano e a influência da ignorância nas convicções e certezas que formamos.
Disso, vem aquela máxima: a convicção e a certeza sobre as coisas é um resultado da ignorância. Isto quer dizer que pessoas que não exploraram extensivamente um tema podem ter uma visão mais limitada e simplificada dele, fazendo com que expressem uma visão mais rígida sobre o assunto.
Isso nos leva a uma pergunta: deveríamos abolir, então, qualquer forma de advertência ou aplicação de consequência em casos de desvios e erros?
Evidentemente que não. Advertências e aplicação de consequências servem, unicamente, como o último recurso para garantir ordem e disciplina. Porém, nunca para educar.
Independente desta discussão polêmica sobre educação, comportamento, punição, advertências e aplicação de consequências, é vital que se entenda o contexto em todo erro ou desvio. O erro ou aquilo que dá errado vai muito além de algo que deve ser evitado, pois é fundamental para a produção do conhecimento.
Inúmeros estudiosos e behavioristas já afirmaram que o comportamento do indivíduo nunca é uma escolha individual restrita, ou seja, há sempre agentes e contextos externos que influenciam e contribuem para definir o comportamento das pessoas em cada situação.
Portanto, o estudo daquilo que dá errado é fundamental para entender e alavancar a performance humana e organizacional na segurança.