Em tese, de maneira geral, procedimentos, padrões, instruções de trabalho ou qualquer outro documento relacionado à gestão de segurança nos orientam, ou pelo menos deveriam, a realizar atividades e tomar decisões que apontam para aquilo que irá prevenir riscos, reduzir impactos de acidentes e aprender com os erros e desvios.
Por outro lado, não se espera que um procedimento seja absoluto ou universal. A Bíblia Sagrada, que é o livro mais vendido e lido do mundo, sofre revisões e releituras em função de quem a lê e, comumente, é mal compreendida ou não produz consenso entre as pessoas quando se trata de sua interpretação. Por que um procedimento escrito por pessoas comuns deveria ser unanimidade ou absoluto?
Quando um padrão precisa tratar um tema ou atividade de maneira generalista e abrangente é esperado que ele não consiga ser universal, ou seja, prever tudo que possa acontecer e suas consequências. Logo, em alguns casos, o padrão não fará justiça ao que, de fato, ocorre, afinal, considera sempre os casos mais usuais e comuns. É importante, porém, que o padrão não ignore a possibilidade de erro.
Não por isso, o padrão será menos correto ou inadequado, pois o erro ou a retidão em relação ao fato real não está no padrão ou em quem fez o padrão, mas na natureza do próprio contexto prático.
É altamente recomendável que, quando o padrão tentar ser o mais abrangente possível em relação à uma tarefa e cobrir o máximo de possibilidades possível, surja algo que não esteja coberto ou se quer tenha sido considerado. Neste momento, os responsáveis pelo padrão devem reconhecer a sua falha ou erro e revisar o padrão. Só isso.
Isso é ser um gestor profissional e maduro. Na mesma medida que a culpa não acrescenta nada quando atribuída à operação, a culpa também não tem utilidade quando usada contra um líder ou contra um padrão ou contra a gestão de segurança.
Ser justo na gestão de segurança é sobre isso: reconhecer e corrigir os desvios e falhas do padrão em virtude da necessidade de abrangência e aplicação generalizada.
Abolir processos como a gestão de consequências, trocar “do” por “no”, ignorar indicadores de acidentes ou placas de sinalização significa tratar a gestão de segurança de maneira cosmética, assim como esconder acidentes e não reportar riscos por medo de represálias.
Não esconda os defeitos que estão por trás da realidade para, enfim, parecer melhor enquanto a maquiagem não é removida. Encare os problemas de verdade! Por que as sanções são injustas? Por que líderes não sofrem sanções? Por que a liderança não quer que riscos sejam comunicados? Por que se deseja esconder acidentes em nome de um PLR? Por que culpamos pessoas?
As respostas são dolorosas e tendemos a nos deixar seduzir por soluções simplistas, cosméticas e superficiais. Não seja assim!
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