Quero sugerir uma reflexão com esse texto sobre algumas características que estão presentes no ambiente da segurança do trabalho, assim como em qualquer outro meio: a flexibilidade, a volubilidade e a polarização irracional.
É comum confundir a qualidade de ser flexível a posicionamentos e opiniões diversas com a ingenuidade e imaturidade de uma pessoa volúvel.
Quando alguém muda de opinião fácil e rapidamente sobre qualquer tema ao sabor da direção que o vento toma, ou seja, em função de pressões sociais, temos uma pessoa volúvel. As bases e fundamentos que sustentam a forma de pensar e as opiniões dessa pessoa não foram construídas a partir do estudo, pesquisa, leitura e reflexão, mas a partir da opinião dos outros. Questionar a opinião de alguém volúvel ou despertar uma dúvida nela é perigoso e pode levar à um confronto agressivo de palavras e ações.
Quando alguém é flexível, seus valores e fundamentos sobre os quais sua vida se estabelece sustentam seu pensamento, seu comportamento e sua integridade moral. E isso é tão verdadeiro que essa pessoa aceita ser questionada e argumentar sobre estes mesmos valores ao ponto de admitir que pode não estar completamente ao lado da razão. Aliás, é o que geralmente se percebe, isto é, ninguém é dono da razão ou da verdade absoluta.
Sobre a polarização irracional, é fato que ela está presente em todos os ambientes e assuntos. Eu acredito que pelas infinitas possibilidades e alternativas possíveis em todos os temas, tentamos simplificar nossas escolhas para não cairmos na agonia de ter que racionalizar todas as características de um tema ou material para emitir uma opinião. É uma forma inconsciente de procurar nossa zona de conforto, mesmo que estejamos fugindo dela, conscientemente.
Você deve escolher se prefere carro sedan ou SUV. Se prefere Palmeiras ou Corinthians. Se é de esquerda ou de direita. É preciso ser contra ou a favor. Ser INdiferente ou perceber o lado positivo e negativo de tudo, para você, não é visto com bons olhos.
O que isso tem a ver com segurança?
Outro dia estive em uma discussão calorosa com um profissional de segurança sobre o famigerado “comando e controle”. Esse profissional defendia que é preciso acabar com o “comando e controle” e eu tentava mostrar que, apesar dos problemas e das limitações dessa estratégia de gestão, em algumas situações ela está sobre a mesa de opções e será usada, em algum momento, independente da nossa vontade. Mais do que isso, “comando e controle” está presente em toda a nossa vida, o tempo todo, desde o lar em que educamos nossos filhos, até nos radares de velocidade trânsito e nas placas de sinalização de riscos das empresas ou no simulado de abandono em emergências.
Tentar ignorar que “comando e controle” faz parte do jogo ao ponto de demonizá-lo é, na minha opinião, ingênuo e imaturo. Negar aspectos negativos da realidade como forma de justificar um pensamento mais elevado é tão errado quanto incentivar a própria realidade negativa. Reconhecer que um comportamento ou tentativa de controlar o comportamento está presente não significa que você apoia ou reconhece aquilo como legítimo. Significa apenas que você é um adulto que lê, reflete e tenta agir de forma responsável dentro de uma realidade, eventualmente, disfuncional.
E sobre o que é colocado sobre novas visões em segurança? Concordo e atuo desde sempre a partir dos 5 conceitos relacionados à filosofia HOP, mas não sob este acrônimo. E estes conceitos não são novos, pois outros pesquisadores e filósofos já falavam deles. Ser novo para você não significa que seja novo para todo mundo.
Entendo que organizar esses conceitos sob um guarda-chuva para facilitar o entendimento é um mérito a ser reconhecido. Sugiro que leia sobre o assunto, especialmente sobre o aprendizado organizacional a partir de desvios e erros. Mas enamorar-se pelo tema não justifica jogar todo o resto no cesto do esquecimento.
Enfim, se você expuser esse tipo de pensamento, corre-se o risco de ser tachado como atrasado ou como alguém que não está antenado ao novo por aqueles que há pouco tempo andavam com uma prancheta caçando operadores sem EPI para dar advertências. Isso é ser volúvel.
E sobre política de consequências (reconhecimento e sanções) e indicadores de dias sem acidente com afastamento. Outra polarização perigosa, pois se for a favor, será criticado como alguém que oprime. É preciso entender que, independentemente de nossas opiniões ou vontades genuínas, respondemos a incentivos negativos e positivos. Achar que isso é errado é um problema, pois estaríamos condenando um traço do comportamento intrínseco a todo ser humano. Mas isso não significa que você apoia o uso dessa estratégia todo o tempo e de forma irrestrita.
Não sou um behaviorista ou um cientista pesquisador do comportamento humano, apenas leio, estudo e reflito sobre o que verdadeiros pesquisadores sobre o tema já escreveram e ainda escrevem. Eu entendo e aceito que o comportamento é complexo e não pode ser definido a partir de polarizações conceituais e volubilidade.
Por mais que se deseje o contrário, todo profissional já usou, usa e usará em algum momento estratégias de controle do comportamento como “comando e controle”, advertências, reconhecimento e indicadores de dias sem acidente. Negar a realidade é ingênuo, imaturo ou, no mínimo, uma forma de escapar de uma verdade desconfortável e da discussão que realmente importa quando nós somos confrontados com nossa impotência.
Qual o objetivo desse texto? Deixar sua consciência tranquila caso deseje usar algumas das estratégias de controle do comportamento descritas nos parágrafos anteriores. Isso não quer dizer que eu concorde com tudo isso, apenas que eu entendo as suas razões de usar e que essas razões são legítimas. Mas não pare nisso, dedique-se a estudar, pesquisar e ler sobre o tema e sobre qualquer outra coisa, pois isto ajudará a desenvolver seu pensamento crítico. Não se torne uma pessoa de um livro só, de uma história só, de um assunto só. #segurançadotrabalho #hop #ehs #culturadesegurança #liderança
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