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Foto do escritorEduardo Machado Homem

O novo normal da segurança do trabalho.

Você já deve ter ouvido que o mundo pós-pandemia vai ser completamente diferente e que nada será como antes em termos de convívio social, relacionamentos, trabalho, lazer e suas consequências. Como isso impactará a realidade das empresas e da gestão de segurança?

Em uma época anterior à pandemia, eu estava dentro do avião a caminho de São Luís, Maranhão. Momentos antes de iniciar o taxiamento, o capitão avisa pelo sistema de som que a decolagem atrasaria cerca de 40 minutos porque uma luz vermelha na ponta da asa tinha queimado e precisaria ser trocada antes do voo.

Segundo o capitão, a luz vermelha queimada na ponta da asa não oferecia qualquer perigo relevante para a segurança do voo, mas como se tratava de um item de segurança, precisava ser trocada quando a inspeção detectasse a anomalia.

A fala final do capitão: “Desculpem o atraso, mas é o que tem para hoje”. Isso significou uma certa quebra da formalidade na comunicação e fez com que os passageiros rissem, anuviando um pouco aquele momento de espera. O fato de o capitão mostrar que um item de segurança mínimo era vital e tratar o tema com certo humor fez com que o “clima organizacional” dentro da aeronave ficasse bastante ameno. Mais do que isso, mostrou que na maior parte da nossa vida, as situações estão fora do nosso controle e precisamos nos adaptar. Querer adaptar o mundo ou a organização às nossas necessidades e anseios é loucura.

Numa sexta-feira, a escola dos meus filhos avisou que um deles passaria do período da manhã para o período da tarde, a partir da segunda-feira seguinte, para que as medidas de distanciamento social pudessem ser plenamente cumpridas e proteger professores, funcionários e alunos.

Alguns pais e mães reclamaram muito, pois entendiam que a escola não poderia mudar o horário sem aviso prévio e sem buscar a concordância de todos os envolvidos. Eles reclamaram com alguma razão, afinal uma mudança de horário na escola dos filhos e filhas causa distúrbios na rotina da vida de todos. Mas o que, talvez, não entenderam é que a questão central é o contexto atual de pandemia, o distanciamento social, os hospitais lotados e mortes aos milhares todos os dias nos obriga ao tal novo normal. O que é o novo normal?

Quando você ouvir dizer que não voltaremos ao normal de antes da pandemia ou que o pós-pandemia será completamente diferente do que já se viveu, não imagine que sairemos na rua para brigar com mortos-vivos ou que teremos grandes desastres naturais que impossibilitarão a vida na Terra ou que o petróleo vai acabar e teremos que andar a pé e de bicicleta. Isso é o que o cinema de Hollywood mostra e por isso se chama filme, não vida real.

A vida real na qual tínhamos rotinas de lazer e trabalho conhecidas e previsíveis no longo prazo é o que estará comprometida em função dessa nova rotina de abre-fecha, lockdown “mais ou menos”, pequenos focos de contaminação local, lotação de hospitais regionais etc. As melhores previsões de especialistas dizem que isso se manterá pelos próximos 3 a 5 anos. E depois deste tempo, não se sabe o que acontecerá. Outra pandemia? Mais ondas de infecção?

Meu objetivo não é desesperar as pessoas, mas oferecer um alento para que se conformem que precisam reorganizar suas rotinas, processos e padrões para se adaptarem ao novo normal que já está se mostrando.

Aquele cronograma rígido de integração semanal de novos funcionários e terceiros que existia terá que mudar. Será comum receber uma mensagem na sexta-feira à tarde para avisar que na segunda-feira de manhã a área de SST terá que fazer a integração de novos terceiros. Isso não será mais exceção. E a integração não poderá mais durar 3 dias porque não se sabe quando os trabalhos deverão ser suspensos novamente devido à infecção das pessoas pelo corona vírus, ou seja, o trabalho precisa ser finalizado o quanto antes e com o mesmo nível de segurança.

Aquele projeto ou treinamento que estava programado para começar na quinta-feira será cancelado na quarta-feira à noite porque o palestrante ou metade da turma está em quarentena. E isso, além de comum, pode se tornar imprevisível.

Treinamentos com 40 pessoas dentro de salas fechadas com ar-condicionado ligado não serão viáveis. Será preciso diminuir o tamanho do grupo para 15 ou 20 pessoas em uma sala toda aberta e ventilada. Isto quer dizer que a capacidade de fazer um bom treinamento deve ser muito maior do que antes, pois o conforto térmico do ar-condicionado e a pouca interação em dinâmicas e discussões durante o treinamento fará com que as pessoas se entediem mais rápido e fiquem mais impacientes.

Os treinamentos de dia inteiro ou de dias seguidos se tornarão cada vez mais raros. Precisaremos aprender que treinamento online não significa fazer na frente de uma tela, tudo aquilo que era feito ao vivo. A interface virtual cansa muito! Entregar pré-trabalho antes do treinamento virtual e materiais para leitura prévia para serem discutidos durante 2 horas de videoconferência não funcionam.

Na Do Safety, nós já entendemos o que funciona para treinamentos e a dica do dia é a seguinte: analise como ocorrem os Ted Talks, as pílulas de conhecimento, o método da cumbuca e as redes sociais. Para treinamentos legais, as normas regulamentadoras, por exemplo, definem a carga horária e os temas a serem tratados. As normas não obrigam ou demandam que as 8 ou 40 horas sejam feitas de uma vez só e dentro de uma sala. As normas definem, apenas, que deve existir uma parte teórica e outra prática, os temas e a carga horária. Por que não fazer treinamentos de 40 horas ao longo de um semestre?

Você já pensou e se organizou para as mudanças nas rotinas de segurança? Talvez seja hora de pensar.

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