Recentemente, ouvi de uma pessoa bastante experiente e sênior no mundo corporativo que os consumidores compram qualidade, acham que compram meio ambiente, mas não compram segurança do trabalho. Eu me dediquei a pensar o que isso significava, além do óbvio de que segurança do trabalho não é uma percepção de valor para o consumidor e o quanto isso impacta nas organizações.
Você já deve ter passado pela situação de comprar um produto ou serviço e não receber aquilo que lhe foi vendido ou terem lhe entregado algo com um nível de qualidade abaixo do esperado. Entram nesse rol de serviços e produtos aquele sanduíche de 20 cm de altura na foto, mas que na realidade parece que passou por um processo de encolhimento para caber na embalagem, um carro cheio de acessórios e opcionais que na concessionária só vem com itens básicos ou um treinamento com alguém que conhece o assunto menos do que você.
Não imagine que as empresas possuem problemas éticos com isso, porque acredito que elas não têm. Você já leu aquelas mensagens em letras pequenas dizendo que as imagens são meramente ilustrativas?. Ainda há um vídeo no YouTube em que a diretora de marketing de uma grande corporação de sanduíches explica como as fotos de seus lanches são feitas e porque são feitas daquela forma. Ou seja, “nossa propaganda é diferente daquilo que vendemos e não temos problema com isso porque você está sendo informado e continua comprando”.
Eu conheço a história de uma ONG que bateu na porta de várias dessas empresas que dizem lutar pela equidade de gênero e raças dentro das suas instalações e operações. O objetivo era oferecer um trabalho sério sobre como buscar a equidade e as razões humanas e de negócio que justificam tamanho esforço. As empresas adoraram, mas não se interessaram porque a iniciativa de equidade era uma responsabilidade de uma subárea com um budget minúsculo. Além disso, o retorno do investimento sobre equidade não ficou tão evidente, ou seja, não perceberam a potencial melhoria da imagem e dos ganhos. Por outro lado, fazer o que é certo deveria ser suficiente.
Estamos na era do marketing e se você pesquisar na internet, verá que existe marketing 1.0, 2.0, 3.0 e 4.0. Eu lhe garanto que você não irá se surpreender com os conceitos, pois você é a fonte e o objetivo de tudo dentro do marketing. A questão é: o quanto a evolução do marketing direciona o seu consumo de produtos e serviços para aquilo que importa em termos de preservação do meio ambiente e do cuidado com as pessoas?
Quando olhamos para os dados e situações reais de trabalho análogo à escravidão, acidentes de trabalho, desigualdade social, desmatamento de florestas e poluição de rios e ar só posso concluir que as iniciativas sob o guarda-chuva da sustentabilidade, do ESG e do marketing associado ainda são mais intenção e propaganda do que realidade. Entre “ter” e “ser”, muitas empresas e pessoas ainda estão acomodadas no “parecer”. E por que isso continua assim?
Eu não estou sendo ingênuo de sugerir boicote a marcas e corporações, pois isso seria uma grande bobagem. Mas eu estou sugerindo que todos nós avaliemos a compra de serviços e produtos em relação ao real benefício para você, para o trabalhador, para a sua comunidade, para sua empresa, depois para sua cidade, seu estado, seu país e, finalmente, para o mundo.
Você deve escolher apoiar e comprar daquelas empresas que podem lhe entregar um produto ou serviço que atenda suas necessidades e que esteja verdadeiramente e visivelmente comprometida com o objetivo de beneficiar o local onde você vive.
Eu adoro o X-Salada do carrinho do Wando perto da minha casa, pois tem um preço honesto, vem do jeito que está na foto, é delicioso e é limpo. Da rua a gente vê o Wando fazendo o lanche e percebe a limpeza do local. Mas o carrinho do Wando vende apenas na minha cidade, não tem escritório corporativo, não tem governança e nem iniciativa ESG. Será que não?
Tenha uma ótima semana!
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