Errar é uma característica intrínseca do ser humano, afinal é uma definição humana que deriva da nossa condição de seres inteligentes e conscientes de nossos atos. O leão não pensa e fica se lastimando quando erra e sua presa escapa da sua tentativa de caçá-la, ele simplesmente faz de novo até conseguir seu objetivo instintivo de se alimentar.
O erro não existe na natureza. O evento da mutação genética no humano, ao qual denominamos de erro na replicação do DNA, transformou o primata original no que hoje somos; e chamamos isso de evolução da espécie. Este mesmo erro de mutação pode levar a uma doença. O erro, portanto, é apenas um evento da natureza sem qualquer significado positivo ou negativo.
O erro pode levar a uma inovação ou a um acidente. Metodologias e filosofias de gestão como TPM, WCM, HOP, Nova Visão da Segurança e normas ISO encaram o erro como uma oportunidade de aprendizado.
Imagine um gestor que há anos faz a gestão da sua equipe e da área de uma forma desconectada com o que se acredita ser uma boa prática em segurança do trabalho. Fala-se sobre cuidado, comportamento seguro, disciplina operacional e senso de dono, mas parece que tudo isto não ecoa dentro do gestor.
Por mais que o profissional de segurança aborde o tal gestor com o intuito genuíno de ajudá-lo a desenvolver as competências de um líder em segurança, é provável que o gestor não entenda desta forma. Talvez, este líder entenda que o que se pede é que ele assuma que sempre trabalhou “errado” e que agora há um novo jeito de fazer as coisas, a forma segura. Seu jeito antigo de gerir coloca as pessoas em risco.
Admitir erros é algo que poucos fazem com prazer. Afinal, isso pode significar se perceber imperfeito e incapaz de atender às expectativas de uma performance extraordinária. Não se trata apenas de uma atitude humilde de se assumir falível, mas de entender como cada erro ocorreu e como aprender com ele. Um ambiente que permite que o erro possa ser exposto sem um julgamento injusto é imprescindível para a admissão de erros.
Valendo-me de alguém que falou sobre isso de uma forma muito mais interessante do que eu, e há muito tempo, podemos entender como o papel do gestor de redirecionar sua atuação pode ser difícil. Platão escreveu os diálogos que descrevem o julgamento e a morte de Sócrates com os títulos Eutífron, Apologia de Sócrates, Críton e Fédon. E lá há uma frase famosa de Sócrates que é a seguinte: “É costume de um tolo, quando erra, queixar-se dos outros. É costume de um sábio queixar-se de si mesmo”.
Admitir os próprios erros significar queixar-se de si mesmo, não de uma forma infantil e piedosa, mas de uma maneira adulta, justa e que gere aprendizado. Ser sábio ou deter sabedoria não é algo que se encontra em qualquer esquina. Logo, para seres humanos normais é preciso estabelecer um ambiente favorável para a aceitação do erro. Do contrário, você teria que contratar ou ter somente colegas sábios e detentores de muita sabedoria.
Há uma história famosa de um capitão do exército americano que se envolveu em um evento em que morreram soldados com fogo amigo. Na história narrada pelo próprio capitão, ele descreve as inúmeras falhas que ocorreram de acordo com a opinião daqueles que ele liderava e que os levaram a esse trágico desfecho. Quando ele é chamado pelos generais para se explicar, o capitão assume total e irrestrita responsabilidade. A conclusão do capitão foi a seguinte: “Eu escolhi, treinei e liderei cada um dos soldados, portanto, se eles erraram é porque eu errei primeiro escolhendo mal os soldados, treinando-os insuficientemente e liderando-os de forma equivocada. Meu erro permitiu que os erros deles acontecessem.”
Isso não significa ser corporativista ou ser um gestor “paizão”. Significa ver a situação com maturidade suficiente para entender como começa e termina o erro de cada um e qual o aprendizado podemos tirar de cada erro e de cada situação.
Para que a semente do erro floresça e gere aprendizado é necessário que ela caia em terreno fértil.
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