Se você acha que gestão de segurança deve ocorrer porque nosso bem maior é cuidar de pessoas e que tudo deve ser movido por essa intenção, é possível que você não goste desse artigo. Mas é possível que você passe a questionar alguns paradigmas.
Cuidado Ativo: Discurso ou Realidade?
O discurso do Cuidado Ativo funciona para a operação e líderes operacionais, mas não tem envergadura suficiente para mover a alta liderança em torno do objetivo de cuidar de pessoas. Vamos entender o motivo juntos e adianto que não tem qualquer relação com coisas tolas como achar que a alta liderança é insensível ao apelo de cuidar de pessoas.
Aprendemos a lidar com a dor da perda.
Depois de algum tempo, aprendemos a lidar com as fatalidades como algo muito ruim que aconteceu no passado. É uma estratégia de sobrevivência do ser humano. Imagine como seria se ficássemos de luto eternamente? Quem já perdeu um ente querido sabe disso. Você nunca esquece a dor da perda, mas ela diminui com o tempo e você aprende a viver com a ausência da pessoa querida por mais doloroso que isso possa parecer.
O tempo cura as dores.
Com a fatalidade de trabalhadores é igual ou ainda mais profundo. Depois de 5 anos de um acidente fatal é possível que algumas pessoas nem se lembrem do nome da vítima.
A comoção e tristeza imediatas que passam a impressão de que agora os líderes se conscientizarão da importância da gestão de segurança e que jamais as coisas voltarão ao normal de antes. Mas isso é transitório, não permanente.
A principal função da empresa: gerar lucro.
Hoje, o que significa lucro?
Empresas foram constituídas para dar lucro, em primeiro lugar. Esse é o objetivo principal da alta liderança. Qualquer coisa que entre na frente desse objetivo se torna um obstáculo para atingir objetivos de faturamento e lucratividade, um problema a ser resolvido.
Acidentes com pessoas e equipamentos são obstáculos.
Não se trata de sensibilidade.
Não é uma questão de insensibilidade à importância que a vida das pessoas deve ter. Eu também não acredito que a alta liderança seja composta por pessoas insensíveis que não se importam com a integridade física e mental dos empregados.
A alta liderança é a representante da empresa. A empresa é um papel chamado Contrato Social que é reconhecido através de um número conhecido como CNPJ. Isso quer dizer que a empresa é apenas um papel que não faz nada a não ser através da alta liderança.
Vida como Valor. Como fica?
Imaginar que a alta liderança não tem a vida como um valor porque iniciativas robustas em gestão de segurança não são implementadas é o mesmo que pensar que uma mãe que não coloca o bebê na cadeirinha do carro e o carrega no colo não ama o próprio filho.
O filme disponível na Netflix chamado “O Poço” mostra muito bem algo que costumo dizer: “chegamos à consciência através da obediência”. Sugiro que assista o filme.
Chegamos à consciência, pela obediência.
Há uma cena em que uma personagem pede a outras pessoas também presas no Poço que deixem um pouco de comida aos demais presos que não podem acessar os alimentos naquele momento. As pessoas se negam e comem tudo o que podem. A personagem, então, ameaça defecar na comida se eles não concordarem em deixar comida para os outros. As pessoas obedecem imediatamente e deixam comida para os demais.
Essa é uma forma apelativa de mostrar que nós nos movemos mais rápido quando percebemos que um efeito negativo pode nos atingir ou àqueles que amamos.
Nos filmes e na vida real.
Recentemente, o presidente americano Donald Trump e o primeiro ministro inglês Boris Johnson se negaram a assumir a necessidade do isolamento social pois achavam que a Covid-19 era apenas uma gripe e que todos estavam superdimensionando o caso como pandemia. Quando ambos perceberam que pessoas próximas estavam sendo severamente atingidas e que a estimativa de perdas de vidas alcançava a escala de milhões de pessoas, mudaram de ideia. Mudaram porque aquilo os atingia pessoalmente, tanto em termos políticos quanto, digamos, emocionais e financeiros.
Hoje, podemos dizer: foram conscientizados.
O que mostrar para a alta liderança?
O objetivo é mostrar para alta liderança e demais líderes que o acidente com pessoas ocupa um tempo precioso de todos e consome recursos que poderiam ser empregados – tempo e dinheiro - na produção de valor agregado para a organização. Tratar as causas dos acidentes de forma sistêmica e madura irá prestigiar o recurso da empresa e o tempo precioso das pessoas.
Acidentes = desperdício de recursos.
Imagine o tempo e os recursos que são perdidos com paradas de produção em função de acidentes com pessoas e equipamentos. Some a isso o tempo usado para investigar e analisar as causas, os recursos para consertar os estragos, oferecer atendimento médico às pessoas, indenizações, sem falar do tempo que leva para recuperar o ritmo de produção.
Agora, imagine que todo esse emprego de tempo e de dinheiro não seja necessário porque não houve acidente. Essa é a mensagem que a alta liderança e demais líderes entendem.
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