Na gestão da segurança do trabalho dizem que o cuidado ativo é um conceito inovador, mas eu tenho dúvidas se realmente pode ser entendido dessa forma.
Cuidado Ativo: faz tempo que anda entre nós.
De diferentes formas, é uma filosofia de vida que já está entre nós há milhares de anos e sobre a qual ainda temos muito a aprender. O Cuidado Ativo foi “inserido” no nosso modo de vida através de virtudes valiosas para diversas religiões.
Como era visto o Cuidado Ativo?
Para o Cristianismo, o mandamento de Jesus para pregar o amor entre as pessoas é o ensinamento mais importante: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.
Para o Budismo, o Cuidado Ativo pode ser explicado assim: Só é feliz o homem pleno de amor por todas as coisas do mundo e que pratica a virtude em benefício dos outros.
E para dar mais um exemplo, no Judaísmo é assim: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Poderíamos continuar citando todas as inúmeras religiões ocidentais e orientais, mas serei sucinto. Se desejar, pesquise sobre o assunto; você perceberá que o Cuidado Ativo está presente em todas as religiões da humanidade.
Amor? Segurança?
Qual a relação?
Se você achou piegas todo esse discurso sobre o Amor ou achou que o discurso religioso não tem relação nenhuma com a segurança do trabalho, pode não ter compreendido o sentido real do Cuidado Ativo. Eu tentarei guiar seu entendimento com esse artigo, mas não tenho a pretensão de conseguir mudar sua opinião. Ainda assim, quero fazer minha parte e, talvez, convencer alguns ou encontrar outros que já pensem o Cuidado Ativo da forma que eu considero verdadeira.
Como lidar com o Cuidado Ativo?
A lição de 400 anos AC.
Há um trecho no livro A República, de Platão, escrito 400 anos antes de Cristo, que pode nos iluminar sobre como desenvolver e lidar com o Cuidado Ativo:
“A lei revela a intenção de oferecer ajuda aos cidadãos. Esse é também o objetivo da autoridade sobre as crianças. Não lhes permitimos que se disponham de si mesmas antes que lhes tenhamos estabelecido uma ordem na alma. Depois de ter desenvolvido sua parte melhor com o que de melhor há em nós mesmos e depois de ter substituído nossa participação com um guardião e um guia semelhante nelas, finalmente deixamos as crianças livres.”
Se entendermos as crianças como sendo os empregados, o “Nós” como sendo os gestores e profissionais de segurança e a “autoridade” como sendo os padrões, processos organizacionais, sistema de gestão e regras, será possível fazer um paralelo interessante.
Primeiro ensine.
Depois deixe fazer sozinho.
A lei define como os cidadãos devem agir pois não podemos garantir que todos tenham dentro de si o conceito adequado de justiça e compaixão para agir. Temos que aceitar que algumas pessoas não têm e que elas precisam de algo (a lei) para saber como agir.
Da mesma maneira, gestores e profissionais de segurança precisam usar padrões, sistema de gestão, regras e processos organizacionais para servir de guia e de guardião para aqueles empregados que ainda não têm o conceito do Cuidado Ativo dentro de si. E esses são a maioria esmagadora. Da minha experiência profissional eu trago que a maioria das organizações ainda se encontram num estágio Dependente na Cultura de Segurança e, nesse cenário, mais de 85% dos empregados não entende o que significa o Cuidado Ativo, nem como agir. Por isso precisam de guias e de guardiões para orientá-los.
Leva muito tempo para internalizar o Cuidado Ativo.
Com o tempo, perseverança e resiliência, esses guias e guardiões serão instilados como parte de cada indivíduo ou empregado, serão traços do caráter individual e da cultura da organização para, em seguida, serem considerados como acessórios importantes e não mais o pilar essencial e sustentador de uma cultura de Cuidado Ativo. Mas isso levará muito tempo e não será possível apenas através de palestras, seminários pontuais, teatros e discursos motivacionais.
Ou será apenas um discurso bonito?
O Cuidado Ativo precisa ser um Valor, e deve ser traduzido em termos de ações sistêmicas reais dentro da estratégia da organização. Do contrário, será apenas um discurso vazio.
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