Eu percebo algumas correntes nos esforços que as empresas estão dedicando para a mudança de comportamento dos empregados e na busca de um ambiente seguro.
Há empresas que focam na importância da escolha individual por um comportamento seguro, da busca da segurança como um Valor a partir do convencimento de cada empregado e do movimento intencional e individual na direção de um ambiente mais seguro de trabalho. Enfim, o foco é no indivíduo e na sua responsabilidade pela sua escolha em buscar o comportamento seguro.
Não é possível dizer que essa estratégia esteja completamente equivocada, pois, por mais influenciáveis que sejamos, ainda se trata de uma escolha.
Outra organizações apostam em esforços dedicados a trabalhar o ambiente e o contexto organizacional, pois acreditam que o comportamento do empregado é fortemente influenciado pelo ambiente, contexto, regras, padrões, clima organizacional, postura de líderes, condições físicas, relacionamentos e outros fatores externos ao empregado.
Impossível, também, dizer que estejam errados, afinal esta é uma abordagem consolidada dos cientistas e estudiosos do comportamento humano.
Eu nunca tive o desejo de ter a última palavra, ser determinista ou taxativo sobre os temas comportamento em segurança, cultura e liderança, mas é um fato que até a década de 1970, a primeira corrente era predominante, ou seja, acreditava-se majoritariamente que o comportamento individual era fruto de escolhas pessoais.
Após 1970, isso começa a mudar.
Skinner, um dos pesquisadores mais renomados no estudo do comportamento começa a difundir a ideia da importância do ambiente externo e de tudo que há nele sobre o comportamento do indivíduo. O pesquisador não excluiu a independência do indivíduo na escolha de seu comportamento, mas mostrou que o ambiente é mais importante e irá sobrepujar escolhas individuais.
Uma forma simples de entender Skinner é perceber que, mesmo querendo muito fazer algo, você escolhe não fazer porque outras pessoas podem julgar mal a sua escolha. Apesar de, ainda assim, ser uma escolha pessoal, o ambiente representado pela opinião dos outros acaba inclinando nossa escolha para algo diferente do que verdadeiramente gostaríamos de fazer.
Isso não é exatamente um problema. É normal, inclusive, e nos ajuda a manter relacionamentos sadios. O grande problema é que em época de redes sociais e ansiedade extrema, acabamos por nos anular e fazer apenas o que os outros aprovam socialmente. Para escapar dessa jaula, é preciso uma vontade individual gigantesca e nem todos conseguem.
Esse cenário que acabei de descrever contaminou projetos organizacionais para a mudança de comportamento de empregados em busca de um ambiente seguro. Acredita-se que, em algum momento, a partir de uma introspecção profunda, os empregados irão se convencer verdadeiramente sobre a importância da segurança do trabalho e de um comportamento seguro em suas vidas. Só então, terão a Vida como um valor.
Ora, a vida sempre foi um Valor para o empregado. A não ser que ele seja um psicopata. Estamos falando de profissionais, pais e mães, filhos e filhas de alguém, ou seja, pessoas boas que trabalham e querem uma vida melhor.
Agora, fica a pergunta. Se a vida sempre foi um Valor, por que o empregado não respeita regras, procedimentos e não se comporta de uma forma segura?
Tenho a tendência de atuar conforme o direcionamento técnico das pesquisas e teorias desenvolvidas por Skinner. Não mudaremos o comportamento das pessoas apostando em palestras que fazem as pessoas chorar ou usando os filhos e filhas para fazer vídeos e entregar EPI.
A rotina definida por procedimentos engessados e ruins, o líder mal preparado para fazer a gestão de segurança em sua área, as condições físicas precárias, os improvisos para buscar alta produtividade, a redução de custos e investimentos, o medo de perder o emprego, o relacionamento pobre com os colegas, a falta de confiança no gestor e a ausência de treinamentos irão sobrepujar a boa intenção e a vontade de fazer o certo. E ele vai escolher fazer errado e se comportar de forma insegura.
A única pessoa que pode mudar a situação acima e transformar a cultura de segurança da empresa é o líder. Sempre com ele, nunca apesar dele.