Gatilhos comportamentais são eventos, ideias, símbolos e momentos que influenciam ou direcionam nosso comportamento em determinados contextos e que terão efeito sobre a cultura de segurança. Existem diversos destes gatilhos, mas o mais significativo e forte, na minha opinião, é aquele relacionado à nossa tendência de seguirmos o comportamento do grupo na intenção ou necessidade de pertencimento e ser aceito.
Desejar fazer parte de um grupo e ser aceito por ele é uma das forças mais vitais do ser humano no convívio social. Em nome deste gatilho, somos capazes de negar nossos próprios valores pessoais para não sermos julgados como "persona non grata".
Existem diversas comunidades que, de forma não intencional ou completamente intencional, nos colocam em situações que acabam nos “forçando” a fazer coisas que, normalmente, não faríamos por vontade própria. Estou falando de boas e de más ações.
Existe a comunidade da escola dos filhos que nos chama para participar da organização da festa junina. A comunidade das pessoas que se juntam para organizar a melhor SIPAT que sua empresa já viu. A comunidade das pessoas que participam daquele projeto de instalação de um novo equipamento. A comunidade do bairro que se junta para uma ação de solidariedade. A comunidade dentro da empresa que se forma para reformar um asilo ou uma creche. A comunidade que se forma em torno de um projeto de inovação. Pode ser que esses exemplos não tenham tocado seu coração, mas, com certeza, existem comunidades às quais você gostaria de participar ou já participa.
Você pode usar esse agente motivador do gatilho da comunidade para turbinar suas ações de segurança.
Através de grupos de melhoria ou equipes de aprendizado ou times de projetos, enfim, como desejar chamar, você pode reunir pessoas que desejem contribuir para a prevenção de acidentes. Não se restrinja a melhorias pontuais e objetivas, mas a propósitos maiores do que o próprio objetivo em si. Ao invés de pensar em um trabalho de melhoria do processo de investigação de acidente, pense num projeto colaborativo para alavancar a identificação de ações sistêmicas focadas na prevenção. As pessoas são mais facilmente motivadas por propósitos e menos pelo que lhes parece corriqueiro.
Se você está vivenciando situações em que precisa melhorar alguns processos que apresentam vulnerabilidades sérias e que contribuem para que acidentes aconteçam, aí está o seu propósito. Esses processos podem ser a gestão de terceiros, permissão de trabalho, análise de risco de tarefas e gestão de epi, por exemplo. Forme pequenas “comunidades”, os grupos de trabalho. Cada grupo de trabalho ficará responsável por um tema. As pessoas escolherão participar do tema que elas mais se identifiquem. Cada tema terá um líder operacional como responsável e um técnico de segurança para apoiar.
Faça fotos, cartazes, café da manhã para os grupos de trabalho, reuniões semanais para revisar cada processo, comunicação em jornal interno, WhatsApp, telegram e e-mails. Enfim, tudo que possa passar a clara impressão de pertencimento a um grupo que está contribuindo para uma causa e que mostre o evidente reconhecimento por isso.
Depois que os trabalhos evoluírem, crie um momento de apresentação dos resultados de todos os grupos de trabalho, uma confraternização e o reconhecimento das lideranças. Cada grupo de trabalho terá se tornado uma pequena comunidade, uma comunidade que se juntou para aprimorar processos que contribuíram para a prevenção de acidentes.
Ao mesmo tempo em que queremos ser únicos, desejamos pertencer a um grupo de pessoas como nós.
Aliás, nos juntar em comunidades é o que nos move. O ser humano é um ser social, antes de ser emocional.
Pessoas se juntam para formar uma família. Famílias se juntam para formar uma cidade. Cidades se juntam para formar um país. Interessante perceber como tudo caminha para a formação da unidade, de uma comunidade.
Se há uma estratégia que deve sempre estar presente em seus projetos, é a formação de uma unidade, de uma comunidade.