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Cultura Dependente: O Que Significa?

Atualizado: 8 de out. de 2020

Continuando a série de quatro artigos sobre as características dos diferentes níveis de maturidade da cultura de segurança, descreverei o nível dependente. As características estão a seguir.


Segurança é responsabilidades de todos?

No discurso.


Apesar do discurso que dita a segurança como responsabilidade de todos, na realidade, a gestão de segurança fica a cargo dos profissionais da área de segurança e dos gestores das áreas operacionais. Percebe-se isso, claramente, quando a definição de procedimentos e discussões de metas tem a participação da operação apenas como espectadores e assinantes de lista de presença de reunião. Outra evidência dessa característica é a ausência de protagonismo da CIPA que acaba tendo um papel secundário no acompanhamento de conclusão de ações, sem relevância na atuação sobre o plano de evolução da cultura da organização.


Conceito de dono? O que é isso?


Outra característica marcante é o desconhecimento do que significa o conceito de dono. Dono da área, dono das ferramentas de trabalho, dono do nível de 5S da área, dono da integridade dos equipamentos, dono dos padrões e regras, ou seja, de tudo aquilo que equivale à gestão de segurança na área operacional. A consequência disso é a tomada de decisões apenas pelo líder da área. A tarefa só é interrompida ou reiniciada após o aval do supervisor ou do gerente, a regra de segurança só vale se o líder da área apoiar e a melhoria só é realizada se o gestor aprovar tecnicamente – mesmo que ele não seja especialista no tema. Aliado à essa ausência do sentimento de dono, está o fato da dependência que as equipes têm do técnico e do engenheiro de segurança. A decisão é tomada somente pelo líder, mas antes ele consulta a área de segurança, sempre. Se ocorrer um problema, foi o profissional de segurança que orientou errado.


Só libera a atividade quando o técnico de segurança chegar.


O extremo da situação descrita acima é a liberação de uma atividade pelo técnico de segurança ocorrer depois da liberação do líder. Isso acaba oferecendo duas consequências inusitadas. Primeiro, a pressão por liberar rápido, pois todos já liberaram e só falta o técnico de segurança assinar. Segundo, a importância da liberação do técnico de segurança é circunstancial, pois só irão valorizá-la se ocorrer um acidente.


Disciplina operacional é a ausência de erros?

Não!


A disciplina operacional é entendida como uma característica genética dos indivíduos, ou seja, alguns são disciplinados e outros não. Para os disciplinados, a regra funciona e para os indisciplinados a solução é o controle e o microgerenciamento. Se não funcionar, usa-se o medo através de advertências e demissões exemplares de prestadores de serviço, principalmente. Tolerância zero com erros significa ignorância máxima na consequência.


Aliás, a forma equivocada de lidar com erros e desvios é outra característica forte do nível dependente. Ao invés de serem vistos como oportunidades de aprendizado, resultam em mais controles, mais regras, mais sinalizações, mais treinamentos, mais procedimentos e assim por diante. Atrelado a isso, está a busca por culpados pelo erro, mas de forma velada, pois já é sabido que essa não é uma boa postura. Acredita-se que não tolerar o erros ou desvios é um caminho para buscar o “Zero Desvio”, “Zero Erro” ou “Zero Acidente”.


Quando se passa a entender que a obtenção de disciplina operacional tem muito mais a ver com gestão, a tolerância ao erro aumenta e o aprendizado organizacional melhora.


Comportamento responde por 95% dos acidentes.

E daí?


O entendimento dos aspectos comportamentais é superficial. Já se entende que o comportamento das pessoas influencia decisivamente na ocorrência de acidentes, mas a compreensão de como isso acontece é rasa. Acredita-se que é possível mudar o comportamento das pessoas com discursos, palestras, treinamentos e com o “dom da palavra”. Afinal, acredita-se na falácia de que o brasileiro médio tem uma falha de caráter intrínseca, não respeita regras, gosta do “jeitinho” e etc.


Quando os gestores entendem que o comportamento do empregado é influenciado pelo contexto da organização, pelas condições físicas, pela iluminação, pelos relacionamentos com os colegas, pela postura do líder, pela qualidade dos padrões, pela disponibilidade de ferramentas adequadas, pelo nível de treinamentos, pela confiança mútua, pela qualidade dos epi´s, por regras, pela política de consequência, pelos investimentos, pelos prazos, enfim, por aspectos de gestão e cultura muito mais profundos, o rumo da organização muda consideravelmente.


Por não se compreender o aspecto comportamental na segurança do trabalho, essa área é vista como extremamente técnica, ou seja, seus profissionais não dominam habilidades de relacionamento, influência, gestão, escuta ativa, empatia, cuidado e outras características típicas de seres sociais, humanos e emocionais. Da mesma maneira, essas não são características a serem desenvolvidas na equipe e muito menos são parâmetros de contratação ou avaliação de desempenho.


Será que basta respeitar as regras e seguir procedimentos?


A busca por um ambiente seguro é direcionada pelo entendimento de que a conformidade em relação às regras e padrões seria suficiente. O respeito às regras e padrões é balizado pelas tarefas prescritas e não pelas tarefas reais. Os documentos formalizam um cenário idealizado e a consequência é percebida na quantidade de improvisos, pois os empregados são cobrados pelo resultado da tarefa e não pelo cumprimento correto da tarefa. De forma encoberta é sabido que se as tarefas forem executadas conforme as regras e os padrões as descrevem, a tarefa não será concluída. Logo, cobra-se o respeito às regras e procedimentos, mas não se monitora o real cumprimento.


Se deseja fazer um diagnóstico da maturidade da cultura de segurança da sua empresa, entre em contato conosco. Nosso telefone é 19-3375.4746.

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