Além da(o) profissional de segurança do trabalho ser, na maior parte das organizações, responsabilizada(o) pela baixa performance em termos de acidentes, sente-se que precisa estar sempre se atualizando em função de uma nova legislação ou de uma nova moda do mercado de gestão e consultoria. A nova legislação sempre se apresenta como solução definitiva de todos os problemas (vide e-Social) ou a nova ferramenta ou metodologia ou filosofia é o grande "insight" do século 21 e se você não aderir é porque você está atrasada(o).
Parece que a(o) profissional de segurança está sempre devendo algo para alguém. O cenário para o futuro não é muito promissor, ou seja, faz parte do modo de vida atual sempre aparecer algo novo com o qual você precisa lidar. É necessário ter bons fundamentos e alicerces naquilo que é básico em termos de gestão de riscos e de segurança para conseguir lidar com a ansiedade de sempre ter que correr atrás daquilo que se colocar como novo. Tudo que se coloca como novo fica velho e será, eventualmente, descartado pelo novo "novo".
É da natureza do ser humano olhar um ambiente, um contexto, um cenário, uma conversa, enfim, qualquer coisa, e perceber um padrão ou uma relação de causa e efeito, mesmo que essa relação não exista. Aliando isso a um sentimento de medo que está ancorado no instinto de sobrevivência, optamos por permanecer em uma zona de conforto e chegamos a 8 bilhões de pessoas no planeta Terra.
Há 50 mil anos, essas características peculiares - ver uma relação de causa e efeito em tudo, o medo e o instinto de sobrevivência - fizeram com que nossos antepassados sobrevivessem em um ambiente que poderia matá-los a qualquer instante, seja por uma fratura nos ossos após uma briga, um corte infeccionado, de frio, de fome ou comido, literalmente.
Do ponto de vista físico e genético, nossos cérebros podem não ter evoluído muito nos últimos 40 mil anos, mas nossas mentes, sim. Um bebê nascido hoje seria bastante parecido com outro nascido há 10 mil anos atrás. Porém, se fôssemos capazes de comparar a estrutura neural de um cérebro adulto na sociedade moderna com a de um cérebro adulto de 40 mil anos atrás, descobriríamos imensas diferenças. Com experiências moldadas pela cultura, tecnologia e pela avalanche de informações, o cérebro maduro atual respondeu ao fluxo intenso com conexões neurais muito diferentes.
Temos alimento e água para alimentar os 8 bilhões de habitantes do mundo. Mesmo considerando dados enviesados e pontuais sobre a violência em centros urbanos, estudiosos afirmam que o planeta Terra nunca esteve tão pacífico. Não estou ignorando os conflitos motivados por questões raciais, religiosas, sociais, políticas e econômicas existentes no mundo, mas o fato é que hoje se morre menos.
Perceba que curioso. Há fartura de alimento, disponibilidade de água, menos morte à espreita e apesar disso tudo, as pessoas estão mais ansiosas e estressadas. Como explicar?
Os animais pré-históricos (seres humanos incluídos) começaram a desenvolver circuitos cerebrais com a finalidade de lhes manter vivos e seguros. A ativação dos reflexos de sobrevivência e do medo incentivaram as áreas corticais a encontrar o perigo. Esse mecanismo “verificador do perigo” fez uma eficiente seleção natural, isto é, animais sem esse verificador ativado não sobreviveram, foram comidos antes de se reproduzirem. E os animais com verificadores ativados para o medo sobreviveram e passaram seus genes aos descendentes que também tiveram verificadores ativados... chegando aos dias atuais.
Podemos dizer que esse estado de alerta e atenção que, invariavelmente, interpretamos como pressão ou estresse, é o que nos fez chegar ao estado de desenvolvimento que temos hoje. Sempre houve o estresse e sempre haverá, além de ser intrínseco ao mecanismo que nos torna melhores. O que faz esse mecanismo deixar de ser útil e estimulante para se tornar paralisante e incapacitante?
Somos inundados de notícias ruins todos os dias, sobre assassinatos, assaltos, fuga de presídio, sequestros, bala perdida, brigas, acidentes etc. Notícias boas e triviais não geram engajamento do público. Notícias boas não vendem. E vivemos num mundo onde gerar lucro é essencial para a sobrevivência. Mas essa overdose de informação ruim de todos os lados, acrescida de relações humanas superficiais, faz nosso mecanismo verificador de perigos ficar hiperativo, reagindo intensamente a tudo o tempo todo e nos levando a um estado de fadiga crônica, estafa e estresse.
O psiquiatra americano de Harvard, Robert Waldinger, estudou os sonhos dos jovens e adultos da atualidade e como entendiam a forma de chegar nesses objetivos. A maioria desses jovens e adultos respondeu que seu maior sonho era ficar rico e ser famoso e que conseguiriam isso através de muito trabalho. A mesma maioria não enriqueceu e nem ficou famosa após anos de muito trabalho. Em uma outra pesquisa, ele acompanhou a vida de centenas de pessoas, da adolescência até a vida adulta e a velhice. Por 74 anos, pesquisadores de Harvard acompanharam a vida de 724 homens. Após muitas entrevistas com esses homens e suas famílias, exames médicos e análises das mais diversas, chegaram à conclusão que aqueles que tiveram uma vida mais cheia de significado e feliz não foram os mais ricos, famosos e que trabalharam muito. Aqueles que desenvolveram boas e duradouras relações com sua comunidade, amigos e família foram os que tiveram as vidas mais saudáveis, felizes e cheias de significado. E não se trata de ter muitos amigos, mas da qualidade das relações mais próximas e afetuosas que uma pessoa tem.
É preciso filtrar as notícias ruins que chegam a nós e cultivar relacionamentos saudáveis, para manter nossos níveis de estresse aceitáveis e estimulantes.
A maneira como encaramos o estresse faz toda a diferença. Pesquisas britânicas mostraram que pessoas que entendem o estresse como algo que pode fazer mal à saúde tiveram uma probabilidade maior de serem acometidas desses males. Enquanto aquelas que encaravam o estresse não de forma exatamente positiva, mas como algo que faz parte da vida e que não faça, necessariamente, mal à saúde, viveram mais e com maior qualidade de vida.
Isso mostra que, na realidade, o estresse é um processo de resposta do nosso organismo aos momentos de pressão para que nós possamos ser mais fortes, rápidos e ágeis em uma situação de perigo. Para aproveitar esse benefício e não vivenciar os aspectos negativos do estresse constante, é necessário tomar uma atitude consciente de abrir suas janelas de tolerância. Isso significa identificar aquelas coisas, situações e pessoas que lhe estressam ou que sejam gatilhos potenciais para a sensação de estresse. Escolha, conscientemente, uma resposta adulta e madura para essas situações como se elas fossem uma subida íngreme durante uma corrida que precisa ser vencida da melhor forma possível. O esforço será maior e não será fácil. Para mim, as melhores respostas que eu já encontrei foram uma caminhada, ler um livro e ouvir música.
Pense que é um obstáculo a ser transposto e que ficar irritado e estressado não moverá o obstáculo. E depois que a situação passar, force seu pensamento para outras coisas para que você não ceda aos pensamentos em espiral que podem capturar sua atenção. Respire conscientemente durante essas situações.
Eu, verdadeiramente, sei que não é fácil. Nas primeiras vezes você, provavelmente, falhará. Mas se persistir, tenho certeza absoluta que sua nova forma de lidar com as situações estressantes irá lhe trazer uma qualidade de vida excepcional.
Eu sou um engenheiro e, portanto, não falo tudo isso como um pretenso psicólogo que eu não sou. Falo como alguém que perseverou e conseguiu correr por toda a subida íngreme e chegou ao outro lado.