O trabalho do gestor de segurança, num primeiro momento, está relacionado à preservação de vidas e da integridade física e mental das pessoas. A partir desse objetivo inicial, definem-se outros que estarão conectados com a forma com que que aquele objetivo inicial será atingido ou perseguido.
Para uma grande maioria dos profissionais de segurança, esta forma de cuidar da vida das pessoas está atrelada, quase que integralmente, ao atendimento de requisitos legais e à fiscalização dos trabalhadores através de análises de risco, permissões de trabalho, procedimentos e instruções operacionais. A não ser que você, como gestor de segurança, tenha tido a oportunidade de ingressar ou estar em uma organização que trata a segurança de uma maneira diferenciada, essa já foi ou ainda deve ser sua realidade. E é esta realidade que define as suas dores, suas preocupações, sua ansiedade pela possibilidade de um acidente e de manter sua empregabilidade.
Dessa forma, além da preocupação comum de qualquer profissional de segurança com a ocorrência de acidentes, investigações e responsabilizações, você deve ter uma rotina massacrante de acompanhamento presencial das atividades, monitoramento de cumprimentos de regras, acompanhamento de indicadores, recepção de fiscais do trabalho, depoimentos em processos trabalhistas etc. Enfim, uma rotina de "enxugar gelo" que não oferece a perspectiva de melhora do contexto de gestão da segurança do trabalho.
Por outro lado, se você tem a oportunidade de atuar em uma organização em que o foco está na atuação sobre a cultura de segurança, o entendimento do contexto organizacional, a compreensão dos comportamentos, a implementação de gestão de riscos e de processos, é possível que sua rotina não seja tão extenuante quanto àquela do outro profissional de segurança descrita nos parágrafos anteriores, mas ainda assim será igualmente dolorosa.
No final de um período que pode ser 1 mês, 1 ano ou mais tempo, a entrega e a qualidade do seu trabalho como profissional de segurança será medida pela ocorrência de acidentes e/ou pela gravidade deles.Talvez isso seja justo, talvez não. Isso não quer dizer que eu concorde com a responsabilização direta e única do engenheiro e do técnico de segurança pelos acidentes. Mas eu entendo o que isso significa e o quão agonizante deve ser ler em postagens e textos de blogs que não deveria ser assim. O que mais tem nas redes sociais e nos blogs é a descrição de como as coisas deveriam ser e o quanto você e a organização em que trabalha estão errados.
Tranquilize-se. Aqueles que julgam estar no alto do Olimpo do conhecimento da segurança do trabalho estão mergulhados até o pescoço com a mesma realidade dolorosa que você, talvez pior. Reverberar uma ideia idealizada da realidade, mas que não faz parte da própria rotina é uma forma de lidar com aquilo que é indesejado.
Independente da cultura organizacional da empresa em que você trabalha estar ou não alinhada com as ideias e conceitos mais robustos e atuais sobre segurança do trabalho, não se desconecte do objetivo e do propósito principal: salvar vidas e preservar a integridade física e mental de pessoas. Se você se desconectar deste propósito, vai perder o sentido e a direção do que levou você a escolher a segurança do trabalho como profissão.
Seguir esse propósito através da transformação da segurança e da vida das pessoas em um valor dentro das organizações deve ser o direcionamento da sua carreira.
Parafraseando Mário Sérgio Cortella, faça o seu melhor, com o que você tem agora. Não fique esperando ter mais recursos para fazer aquilo que se julga o ideal.