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Foto do escritorEduardo Machado Homem

Mortes em silos de grãos: investimentos, lei, fiscalização e liderança.

Há cerca de 20 anos, a cultura de cana-de-açúcar e toda a indústria relacionada começou a ser fortemente pressionada pela sociedade e órgãos governamentais para a busca de uma performance mais sustentável do seu modelo de negócio. Hoje, observamos o efeito disso através de práticas ambientais, trabalhistas e de segurança do trabalho mais robustas e reconhecidas como, no mínimo, satisfatórias. É claro que ainda existem melhorias a serem feitas, mas um grande passo foi dado. Eu me lembro que em 2002 fui apresentado a uma tese de doutorado voltada à pesquisa de luvas mais ergonômicas e seguras para os cortadores de cana. Hoje, isso não faria o menor sentido.


A armazenagem de grãos pode estar no início desse caminho que a cultura de cana-de-açúcar e sua indústria começaram a trilhar há duas décadas atrás.


O artigo que você encontrará no link ao final desse texto trata de um acidente muito comum na armazenagem de grãos, ainda hoje: engolfamento. É um risco muito bem conhecido com meios para a prevenção disponíveis, de custo baixo e fácil implementação. Por que ainda vemos esse tipo de acidente, então?


Sobre um acidente que a matéria relata, destaco alguns trechos:

- (...) o trabalho em silos está entre as atividades com mais acidentes fatais no país, depois das profissões sujeitas a mortes no trânsito;

- (...) a empresa relutou em esvaziar o silo para facilitar o resgate, pois não queria perder dinheiro com o descarte (...);

- (... o empregado) conhecia os riscos do trabalho em silos e havia sido treinado para a atividade. Ele sabia que, ao caminhar sobre a massa de grãos, trabalhadores deveriam estar presos por cordas a um sistema de ancoragem;

- (...) quando não havia técnicos de segurança no silo, como naquele dia, os supervisores afrouxavam as regras para acelerar os trabalhos. Ele não vestia cinto de segurança quando sofreu o acidente;

- (...) nove meses depois do acidente, (o empregado) foi demitido sem justificativas.


A reportagem deixa claro que esses acidentes fatais ocorrem tanto em armazéns de cooperativas e fazendas individuais quanto em silos de multinacionais que comercializam grãos, conhecidas no setor como traders, ou seja, é um problema do setor e não se trata de caso isolado.


O interessante é que, de forma sutil, a reportagem mostra e critica como a fiscalização é medíocre. É relatado que o procurador do MTE pedirá às empresas que se adequem à norma ou entrará com uma ação civil pública para cobrá-las na Justiça a seguir as regras. A Norma Regulamentadora nº 31 é de 2005, logo faz 13 anos que ela define os requisitos de segurança para silos e somente agora a fiscalização irá cobrar as indústrias. Não é preciso dizer mais nada.


Não é a minha intenção crucifixar indústria ou agentes fiscalizadores, mas mostrar que um esforço é necessário, que a sociedade está começando a perceber esse drama e que o aspecto de investimentos e liderança é o caminho. Foi o que aconteceu há 20 anos com a cultura da cana-de-açúcar e a indústria relacionada. Agora é a vez dos silos de grãos?


Segue o link da reportagem:



Abraços,


Eduardo Machado Homem.



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