A Neurociência tem muito a contribuir com o desenvolvimento da percepção de risco.
Pesquisadores renomados internacionalmente como Roberto Lent, Antônio Damásio, Eric Kandel e Mark Bear mostram em seus trabalhos que nosso cérebro irá buscar a alternativa que lhe parecer mais favorável e confortável emocionalmente. Entre duas opções de agir, aquela que está atrelada sensações e sentimentos de satisfação, acolhimento, conformidade com o grupo, satisfação, prazer e alegria será favorecida. Muitas vezes, independente do resultado de longo prazo.
Imagine, então, uma situação em que o respeito à regra ou não são as opções disponíveis.
Independente da segurança ser ou não um valor para a organização, a escolha racional é respeitar a regra, pois, em tese, ela foi pensada para propiciar um ambiente de seguro de trabalho em que o empregado não se machuque. Desrespeitar a regra significa se expor ao risco de um acidente. Mas a experiência mostra que a escolha racional não costuma ser a mais atraente.
Agora o ponto que mais nos interessa: e se a segurança não for um valor?
A motivação para implementar e respeitar regras em segurança está na possibilidade de controlar e evitar um risco de acidente, uma lesão ou qualquer outro dano à saúde do trabalhador.
Por outro lado, a motivação para NÃO respeitar a regra pode ser associada a uma série de emoções confortáveis como agradar o chefe, terminar a tarefa mais rápido, entregar o volume de produção prometido, cumprir metas de produtividade e outras. Qual dessas opções você acredita que nosso cérebro escolherá? A opção associada com emoções ruins como lesão e acidente ou a outra conectada com sentimentos mais agradáveis como atingir metas e ficar bem com o chefe? Com certeza, a segunda opção.
Imagine agora que isso se repete diariamente, a todo minuto e em cada situação da nossa vida cotidiana, seja em relação aos amigos, ao chefe, à empresa ou à família. Esse é o condicionamento que foi “gravado” em nosso cérebro ao longo de milhares de anos de evolução e é um fator chave do processo de decisão de cada um de nós.
Agora, junte esse condicionamento relacionado ao nosso processo de decisão com o fato de que o cérebro automatiza mais de 90% das nossas ações diárias. Está montada a base do maior problema relacionado à percepção de risco: o processo de decisão pessoal e o automatismo das tarefas levando as pessoas a ignorarem riscos.
Como podemos reverter essa situação?
Primeiro, desenvolvendo a liderança para a gestão de SSMA/EHS em suas áreas. Líderes devem entender que suas decisões e ações são definidoras ou influenciadoras do contexto organizacional, técnico, humano e social dentro das empresas e que tudo está, de alguma forma, conectado ao seu exemplo direto ou indireto. Líderes não nascem sabendo e, na maioria das vezes, nem são formados para saber disso. Portanto, é importante ter a conscientização e a formação da liderança em competências de segurança como uma prioridade.
Em segundo lugar, mas não menos importante, é vital ensinar as pessoas a perceberem as situações em que as escolhas foram erradas ou influenciadas de maneira a levarem para o automatismo das tarefas. O automatismo não é o problema, mas o resultado deletério para a segurança, ou seja, ignorar o risco em função de uma tarefa realizada de maneira automática.
Desenvolver a liderança resultará em uma cultura de segurança positiva e a construção da percepção da segurança como um valor. A percepção de risco será estimulada a partir do momento que a operação perceber o novo direcionamento das suas escolhas e do processo de decisão para o comportamento seguro.