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  • Foto do escritorEduardo Machado Homem

A abordagem HOP (Human and Organizational Performance) na segurança do trabalho.

Atualizado: 20 de fev.


Eduardo com camisa azul e num fundo mesclado azul e branco com a frase Abordagem HOP em Segurança sobreposta à imagem.

Primeiramente, é importante salientar que a abordagem HOP (Human and Organizational Performance) na segurança do trabalho não é um programa para ser implementado, mas uma filosofia rma de trabalho na gestão de segurança do trabalho.


HOP (Human and Organizational Performance) se apoia fortemente no aspecto humano e considera o fato de que pessoas erram e continuarão cometendo erros, pois a origem disso está no ambiente físico, no sistema organizacional, nas relações humanas e na condição inerente do ser humano de ser imperfeito. Aliás, é justamente sobre essa condição de imperfeição que se apoia a evolução do ser humano há milhares de anos. Há um ditado que diz o seguinte: “mostre-me alguém que nunca errou que eu lhe mostro alguém que nunca fez nada”. Ou aquele ditado mais popular: “só quebra prato quem lava louça”. Para a abordagem HOP, esses ditados são completamente verdadeiros.


HOP baseia-se, especialmente. em cinco princípios norteadores:

- pessoas erram e sempre cometerão erros;

- erros não são violações de regras, códigos ou padrões;

- a abordagem positiva e construtiva ao erro é vital;

- erros e falhas são fontes de aprendizado;

- ambiente de confiança e justo.


Para compor uma filosofia sobre esses princípios é importante trabalhar o uso de indicadores pró-ativos, maximizar ações que motivem a notificação de incidentes e reforçar o envolvimento das pessoas na identificação de soluções para o aprendizado organizacional, sendo esse último um dos principais ganhos da filosofia HOP: o aprendizado organizacional.


Em outros artigos, escrevi que o reconhecimento das contribuições das pessoas é um fator muito mais motivante do que críticas sobre erros e deficiências. Logo, abordagens comportamentais baseadas em “consertar” o erro humano costumam ter resultados muito limitados. Não é incomum encontrar organizações insatisfeitas com seus resultados de acidentes, mesmo após grande esforço sobre sistemas de segurança baseado no comportamento.


O ponto nevrálgico é que a abordagem baseada em comportamento foi distorcida ao longo dos anos. Em função da incompreensão e de conceitos rasos relacionados ao comportamento humano em ambientes organizacionais, muita atenção foi dada à identificação de direcionadores ou motivadores do comportamento, ou seja, o comportamento é a causa do acidentes e o problema a ser "consertado" está na pessoa. É uma forma muito sutil e elegante de culpabilização que aponta para “hábitos antigos” e “baixa percepção de riscos”, por exemplo. O alardeamento “marketeiro” de que diálogos ou observações comportamentais mudam as pessoas é uma falácia quando a ferramenta é implementada desvinculada de uma estratégia de atuação sistêmica, ou seja, como se fosse o principal, quando é apenas uma ferramenta de apoio. A abordagem ou diálogo comportamental é uma ferramenta poderosa, mas não deve ser o eixo do seu programa de segurança comportamental.


Um programa de segurança comportamental precisa compreender o contexto organizacional em que determinado comportamento ocorre, ou seja, o local em que a atividade é executada e como ela ocorre. O comportamento observado é fruto da atuação dos líderes e dos pares do executor da atividade, do ambiente físico como equipamentos, ferramentas e 5S,dos processos corporativos como padrões, regras, procedimentos e indicadores, além da qualidade e justiça dos relacionamentos entre pares e com os líderes. Quando tudo isso está bem ajustado, fica mais fácil para o empregado fazer escolhas seguras.


A proliferação de procedimentos e regras que engessam uma operação é outro efeito da aplicação distorcida da segurança baseada em comportamento. Se o problema é o erro humano e é isso que deve ser “consertado”, defina regras e procedimentos para que todos cumpram. Se não cumprir, puna. É um circulo vicioso que acaba com um ambiente de confiança, estabelece a cultura de punição e não contribui para o aprendizado organizacional.


A abordagem HOP também busca dar foco especial às escolhas dos líderes na busca do comportamento seguro. A responsabilidade por desenhar os processos organizacionais e os executar é da liderança, logo seria injusto culpabilizar os empregados por algo sobre o qual eles não têm influencia ou não controlam. Empregados podem e devem contribuir para desenhar e implementar processos e padrões, não podem ser meros espectadores.


A segurança comportamental é baseada em aspectos científicos e é eficaz. Algumas empresas mostram certa resistência a aplicação de esforço em busca do comportamento seguro porque enxergam exemplos de outras organizações que aplicaram a segurança baseada em comportamento de forma equivocada.


Algumas sugestões práticas para começar a pensar numa abordagem HOP em segurança estão descritas a seguir.


1 - Nunca aborde a falha ou erro humano como algo que defina as características, o conhecimento e as habilidades pessoais do empregado. Perceba que é um momento pontual e que por trás disso existe um sistema organizacional e condições físicas que influenciaram a ocorrência do erro ou falha;


2 – As pessoas erram e continuarão errando. Se focarmos em “consertar” a pessoa, temos um desejo não pronunciado de buscar a perfeição no ser humano, ou seja, construir aquele indivíduo que foi tão bem treinado, é tão habilidoso, tem atitudes tão acertadas que pode chegar a ser perfeito. Isso não faz o menor sentido. Foque suas ações em proteger seus processos, equipamentos e padrões do erro humano. Pergunte “E se?”, “Como?”. Não pergunte “Quem?” ou “Por que?”;


3 – Investigue eventos que não causaram danos ou não machucaram pessoas e identifique causas sistêmicas relacionadas aos conteúdos dos processos, padrões, procedimentos e regras. Fuja de causas como falta de treinamento, treinamento insuficiente, regra inadequada, motivação inadequada, falta de proteção, baixa percepção de risco, ferramenta inadequada e etc. Aprenda, antes de tudo, o contexto das pessoas, do equipamento e do ambiente físico e social relacionado ao evento, do fluxo da atividade e etc. Pergunte-se a razão do treinamento não ter sido suficiente, do risco não ter sido percebido e da ferramenta em uso estar em más condições;


4 – Cultive o cuidado ativo. Eu cuido de você, você cuida de mim e eu permito ser cuidado por alguém. Eu aprendo com você, você aprende comigo e eu permito que você me ensine. Isso só é possível se a organização eliminar a culpabilização do seu contexto, entender que o erro faz parte das pessoas e que ele é originado em processos e ambientes com problemas. Pensar diferente é incentivar o improviso. Empregados devem ser cobrados por executar a atividade como ela está escrita. Líderes devem ser cobrados pelos resultados dessa atividade;


5 – Faça a gestão de segurança do trabalho baseando-se em indicadores pró-ativos e deixe indicadores de frequência e gravidade de acidentes para a reunião de líderes. Use indicadores como:

- inspeções realizadas versus inspeções planejadas;

- desvios solucionados versus desvios encontrados ;

- porcentagem de participação em DDS;

- número de reportes de incidentes;

- ações de investigações de acidentes concuídas versus ações identificadas;

- horas de treinamento previstas versus realizadas;

- exames periódicos realizados versus previstos;

- nível de adequação à requisitos legais;

- simulados de emergência realizados versus previstos;

- revisão das análises de risco de tarefas realizadas versus prevista;

- número de reconhecimentos por prática segura;

- tempo da liderança presente em área operacional;

- abordagens comportamentais realizadas pela liderança;

- número de líderes presentes em reunião da CIPA e outros.


A mudança do enfoque para os desvios dos sistemas, para o reparo dos processos organizacionais e do ambiente físico pode parecer o abandono das iniciativas com foco comportamental, mas não é. Na realidade, é um retorno aos conceitos básicos da definição do comportamento humano, um abandono da culpabilização do empregado pelo erro e o mais importante: o aprendizado organizacional.


Para o aprendizado organizacional é importantíssimo e vital transformar a forma de abordagem a falhas e erros, focando a solução no sistema organizacional e no ambiente físico e não no empregado. Essa é a chave para a implementação da filosofia HOP. Construa equipes focadas no aprendizado organizacional dentro da sua empresa.


Abraços,


Eduardo Machado Homem


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