Um processo importante para melhorar a percepção do risco das pessoas é trabalhar sobre a forma que elas tomam decisões. Podemos ajudar as pessoas a entenderem como tomam suas decisões de forma inconsciente e, de acordo com as possíveis consequências, agir diferentemente daquelas ações automáticas.
Você já pensou o que significa “tomar uma decisão”? Além disso, você sabe quantas decisões você toma por dia?
Um estudo da Cornell University (Wansink and Sobal, 2007) diz que uma pessoa toma mais de 220 decisões sobre alimentação todos os dias. Há um vídeo institucional da Microsoft, corroborado por outras fontes diversas, que diz que tomamos mais de 35.000 decisões por dia. Este último número não é comprovado por nenhum estudo científico, mas se você pensar que cada ato que tomamos, consciente ou inconsciente, é precedido de uma decisão, esse número não parece tão absurdo. Abrir os olhos, sair da cama, pegar a escova de dente, escovar os dentes, ir até a cozinha para tomar café, abrir a geladeira, enfim, cada ação corresponde a uma decisão prévia de fazer aquilo.
Fica mais fácil de entender se pensarmos na quantidade de coisas que fazemos “no automático”, como dirigir um carro. Dar a partida, pisar na embreagem, pisar no freio, dar seta, tudo isso é precedido de uma decisão de fazer.
Nosso processo de decisão pessoal consiste de quatro fases. Primeiro há a obtenção de dados, depois o processamento de informações, em seguida o entendimento do significado e, finalmente, a decisão. Tudo isso pode levar de milésimos de segundos até algumas horas ou dias.
Na obtenção de informação usamos nossos 5 sentidos (audição, visão, olfato, tato e paladar). Em seguida, reunimos todas as informações para organizar padrões e compará-los com aqueles já definidos em nossa memória de longo prazo. Quando há correspondência, o cérebro libera as instruções já armazenadas em nossa memória junto com a carga emocional associada a essas instruções. Caso não exista tal correspondência, usamos a razão e a lógica. A ação será definida por atalhos cognitivos e por uma série de fatores, sendo o nível de consciência (atenção) o mais importante.
Essencialmente, existem dois tipos de decisão, as racionais e as irracionais (ou emocionais).
As decisões racionais têm o objetivo de maximizar ganhos e minimizar perdas, sempre considerando a probabilidade de cada possibilidade. Elas são baseadas em fatos objetivos ou subjetivos, são o melhor tipo de decisão, são reflexivas, sem carga emocional, envolve diálogo e leva tempo. As decisões em uma reunião sobre corte de custos podem ser exemplos deste tipo.
As decisões emocionais ou irracionais estão limitadas a capacidade cognitiva do ser humano, pois nós não conseguimos processar e analisar um grande número de informações simultâneas e correlacionadas. Além disso, o tempo, o conhecimento e a atenção necessária nem sempre estão disponíveis num nível adequado para uma análise razoável. Isso leva ao uso de processos heurísticos, também conhecidos como atalhos mentais. Isto quer dizer que, inconsciente do processo, nosso cérebro ignora algumas informações que julga irrelevantes para tornar a decisão possível e mais fácil. O objetivo do cérebro é economizar energia, recursos mentais e tempo. Dessa forma descrita, tomamos mais de 99% das 35.000 decisões diárias e de forma inconsciente, ou seja, nem percebemos que elas acontecem, apesar de percebermos as ações que resultam dessas decisões.
Essa capacidade foi desenvolvida ao longo de milhões de anos para um ambiente completamente diferente do que vivemos hoje. Há cerca de 5-7 milhões de anos, os humanos se separaram do ancestral comum ao chimpanzé. Há 350.000 anos atrás surgiu o homo sapiens na África e somente há 200 anos surgiu a era industrial, bem diferente da era atual. Ou seja, além das nossas limitações, não estamos adaptados biologicamente para lidar com o ambiente tecnológico atual.
As decisões irracionais ou emocionais podem ser de quatro tipos.
Decisão baseada em instinto: tem relação com nossa sobrevivência. Ex: fome, sede, fuga de perigos, etc.
Decisão baseada em crenças: não há reflexão e dependem da nossa memória. Decidimos assim quando estamos chateados, enraivecidos, inseguros, desrespeitados, etc. Ex: falar/agir e se arrepender depois, romper amizades, terminar relacionamentos, etc.
Decisão baseada em valores: são decisões racionais mediadas pelos questionamentos “Devo?”, “Posso?” e “Quero?”.
Decisão baseada em intuição: são decisões mediadas por informação e experiência de vida, sem considerar valores ou crenças.
Há uma forma cartesiana de pensar que somos compostos de duas entidades, ou seja, o racional e o emotivo. Cada uma teria uma tendência de direcionamento a um ou a outro lado para tomar decisões na nossa vida. Pesquisas recentes - que mostram a região frontal do cérebro como a mais ativa em tomadas de decisão - concluíram que a razão e a emoção não estão dissociadas. A emoção oferece o sentido e a base para justificar a decisão racional, sendo que a primeira acontece antes de a percebermos conscientemente. Na componente emocional da decisão, somos mais influenciados pelas possíveis perdas do que pelos potenciais ganhos. Isso está mais relacionado à nossa evolução ao longo de milhares de anos do que com a nossa realidade objetiva.
Mas nem tudo é tão cinzento. A boa notícia é que somos extremamente inteligentes e podemos transpor essa limitação com tecnologia e acordos formais e tácitos (controles de engenharia, PT, APR, Bloqueio, Recusa de Tarefa, abordagens comportamentais, etc).
Primeiro, as pessoas precisam entender como tomam decisões de forma automática, sem considerar os riscos inseridos na situação. Depois, com uma abordagem baseada em risco (não é abordagem comportamental!), visualizar os riscos assumidos e as razões de terem assumido tais riscos. Foi assumido de forma racional, por instinto, pela intuição, por crenças ou valores? Ou uma combinação disso?
A seguir é preciso perceber se há algo a ser mudado nas ações e nos controles em função dessa visualização. Ou seja, as decisões tomadas inicialmente previnem os riscos ou precisam ser mudadas?
Ao final, agir para que a mudança se fundamente e materialize.
Esse processo possibilitará, ao longo do tempo, a percepção dos riscos de forma consciente, ao invés de serem considerados como ações automáticas.
A ordem é essa: Entendimento, Visualização, Percepção e Ação! Isso é Do Safety®! Faça Simples! Faça Segurança!
Um abraço!
Eduardo Machado Homem.