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  • Foto do escritorEduardo Machado Homem

E a pirâmide de Bird?

O conceito por trás da pirâmide de Bird é bem conhecido por todo profissional da área de SSMA, pois faz parte da grade curricular do curso de engenharia de segurança e técnico de segurança.


Existem pesquisas que mostram dados e experiências que questionam sua validade em definir relações probabilísticas entre a base e o topo da pirâmide. Além disso, estes estudos questionam, inclusive, a identificação de causas comuns entre eventos de menor gravidade da base da pirâmide e eventos mais graves, conforme se desloca para cima na pirâmide.


É importante reforçar que essas pesquisas mais recentes não dizem que não há relação de causa comum ou uma relação probabilística entre o topo e a base da pirâmide. Estas pesquisam reforçam que, pela complexidade dos riscos e contextos organizacionais das operações industriais e de serviços, não é possível garantir que que exista uma relação única ou constante de causas e proporcionalidades como sugere o estudo inicial de Frank Bird.


A diferença é sutil, mas importante.


Apesar disso, ou por causa disso, por muito tempo e ainda hoje, o uso da pirâmide como norte direcional da estratégia em segurança faz sentido para muitas organizações. Isso é um ponto a ser melhor disseminado e comunicado para que o entendimento equivocado sobre a Pirâmide de Bird não comprometa o esforço de prevenção de acidentes.


Enquanto isso, profissionais munidos de farta dose de ironia e sarcasmo, apesar de terem trabalhado sobre a pirâmide de Bird por muito tempo, não trazem o tema para a superfície de maneira agregadora e construtiva. Há que se entender que, dentro das limitações de tecnologia e de entendimento das dinâmicas sociais e organizacionais das empresas, o estudo foi importante para iniciar um processo de convencimento e compreensão de empresas sobre o fato de acidentes não serem meros efeitos colaterais do processo produtivo na busca do lucro. Lembre-se que o estudo da Pirâmide de Heirinch foi publicado em 1931 e Frank Bird atualizou este trabalho na década de 1970, ou seja, há 92 anos e 53 anos atrás, respectivamente. Portanto, é evidente que, com a luz do conhecimento atual, identifiquemos suas limitações em 2023.


Atualmente, a Pirâmide de Bird não é mais suficiente, mas não é destruindo o passado que vamos construir o futuro da segurança. Há de se reconhecer como chegamos até o conhecimento atual em gestão de segurança para não corrermos o risco de incorrermos no mesmo equívoco.


Por um momento, vamos inferir que, com certo grau de certeza, quando Frank Bird fez o seu estudo, os líderes não tinham a compreensão da importância da sua atuação em segurança.


Um conceito perturbador, mas conhecido por muitos, é a propensão que algumas pessoas possuem em correr riscos, por diversos motivos. Sejam eles o reconhecimento de colegas, ganho de tempo, ganho financeiro, enfim, não importa e não devemos julgar. O livro "Risco" de John Adams se concentra um pouco sobre isso e foi nele que me inspirei. O livro também trata do conceito de "termostato do risco", uma relação entre a ocorrência de acidentes, recompensas, propensão ao risco e a percepção do risco para influenciar o comportamento das pessoas. Imagine que cada indivíduo possui um termostato e que ele se relaciona com o termostato do chefe e dos colegas. Pode dar um nó nos nossos pensamentos e no clima organizacional.


As organizações, em geral, trabalham muito forte as recompensas (prêmios e punições) e a ocorrência de acidentes (investigação e foco na Pirâmide de Bird). A maioria dessas organizações desenvolvem a percepção de risco de forma equivocada, associando à percepção à causa raiz dos acidentes. Talvez devessem se perguntar "o que causou essa baixa percepção de risco?". Pouquíssimas organizações trabalham o tema percepção do risco a partir da complexidade que deveriam e acabam por usar iniciativas que flertam com a culpabilidade.


Pense o motivo de alguém ter coragem de pular de "bungee jump" e você não. Pense por que alguns gostam de andar a 180km/h na rodovia e você não. Pense no piloto de Fórmula 1 que faz você vibrar: Ayrton ou Rubens? São fatores muito pessoais que podem ser potencializados por diferentes contextos organizacionais e sociais. Onde alguns enxergam risco de morte, outros enxergam adrenalina e recompensa. No ambiente de trabalho é similar, mas em outro nível, obviamente.


Essa ideia leva gestores a se identificar com a ideia de "culpa" no trabalhador. O estímulo para assumir o risco já existe nas pessoas, é preciso estimular no sentido contrário. Como?


Educando, oferecendo informação sobre o equipamento e ferramenta, recompensando o esforço nesse sentido, trabalhando nas múltiplas causas sistêmicas dos eventos de forma verdadeira, oferecendo referências de pessoas que devem ser seguidas, identificando líderes informais, envolvendo as equipes nos processos organizacionais e de gestão de segurança e outras iniciativas.


A forma como iremos trilhar esta jornada dependerá de como iremos definir nossa abordagem sobre conceitos mais elaborados em segurança do trabalho.


O esforço é contínuo, não visualize uma linha de chegada.


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